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Paisagens Sertanejas / Nordestinas

Pontes e muros, na imensidão das águas

e as eternas e nunca verdadeiras promessas de campanha eleitoral

Publicada em 06/09/21 às 15:15h - 2229 visualizações

Antônio Galdino


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Pontes e muros, na imensidão das águas
Ponte da entrada da Ilha de Paulo Afonso/BA  (Foto: Fotos de Antônio Galdino e do seu acervo)

A história do município de Paulo Afonso traz impregnada no seu DNA a existência de muros e pontes e muitas águas no seu entorno.

Ao seu escolhida para que nesse território fossem instaladas as usinas hidrelétricas que forneceriam a energia necessária para mudar a história de todo o Nordeste brasileiro, a chegada a este local, já era uma grande e perigosa aventura.

Toda a Região Nordeste, de Alagoas para cima e também a Região Norte estavam separadas dos estados do Sudeste e Sul pelas volumosas e agitadas águas do rio São Francisco.

Para se chegar ao Povoado Forquilha, pertencente ao município de Glória, era necessário atravessar o rio saindo de Petrolândia (velha) até Barra, povoado de Glória (velha) em enormes barcaças, como ferry-boots. Se o destino do aventureiro viajante era Salvador havia a BR-110, estrada de terra, quase carroçável...

Até o ano de 1958, o vizinho estado de Alagoas, que estava logo ali à frente dos olhos dos que o viam do território baiano estava dele separado pelo enorme cânion de mais de 240 metros de largura e uma altura de perto de 100 metros. Um precipício respeitável.

Esse obstáculo imenso só deixou de existir quando, cumprindo promessa de campanha em comício feito em Paulo Afonso, organizado às pressas por Abel Barbosa, o presidente da República, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, mandou concluir o projeto da Ponte Metálica D. Pedro II, obra que havia sido iniciada no início dos anos de 1950 e estava paralisada há cinco ou seis anos. Em 1958 a ponte foi entregue ao tráfego e Bahia e Alagoas, enfim, se tornaram juntas, uniram seus territórios.

Não fosse esse um já grandioso desafio da dificuldade dos moradores de Paulo Afonso fazer valer o seu direito de “ir e vir”, livremente como é assegurado na Constituição Federal, a sobrevivência nessas terras de caatinga pura, ainda teve que se deparar com uma gigantesca cerca de arame farpado que a Chesf fez construir para separar suas terras, onde instalou escritórios e residências, do povoado que crescia desordenadamente ao seu lado. Para piorar ainda mais, a cerca de arame foi, depois, substituída por um muro de mais de um quilômetro de extensão.


E os moradores de Forquilha, que depois se chamou Vila Poty, que veio a ser o Distrito de Paulo Afonso e, finalmente se transformou na grande cidade, sede do município de Paulo Afonso, levaram décadas para que o muro fosse, simbolicamente, derrubado e o movimento das pessoas entre esses dois territórios se tornasse livre...

Mas, logo vieram as barragens, enormes, gigantescas, formando lagos imensos, reservatórios ditos necessários para fornecer toda a água necessária, o combustível de que as usinas hidrelétricas precisam para gerar a energia que move o Nordeste e o Brasil.

A criação de mais usinas hidrelétricas gerou a necessidade de se construir um canal de seis quilômetros de extensão e 150 metros de largura e, com ele, toda a parte histórica da cidade de Paulo Afonso se transformou numa grande ilha, cujas únicas saídas são através de duas das usinas construídas pela Chesf, de acesso limitado aos funcionários de hidrelétrica e uma ponte construída pela Chesf na década de 1970, o que gerou o nascimento do Bairro Mulungu, hoje, Tancredo Neves, criado justamente para abrigar os que moravam no local que seria o leito deste canal.

Dimensionada para a época, quando praticamente toda a população urbana de Paulo Afonso estava nestes bairros históricos, Fátima, Centenário, a pequena Vila Inocêncio e Acampamento da Chesf, a ponta da Ilha de Paulo Afonso atendia às necessidades dos moradores, dos turistas, dos que chegavam a Paulo Afonso.

Certamente que muitos pensavam que ia acontecer com Paulo Afonso o que tinha acontecido com outras localidades onde, ao serem concluídas obras de grande porte, havia um natural esvaziamento do lugar que se transformava em pequenos arruados, quase cidades fantasmas.

Paulo Afonso contrariou essa receita e foi crescendo a cada ano e o único acesso à Ilha de Paulo Afonso, a ponte construída sobre o canal da Usina Paulo Afonso 4, foi ficando pequena para o grande fluxo de veículos oriundos dos outros Estados e dos muitos e grandes bairros que foram crescendo do outro lado da ponte, como o Bairro Jardim Bahia e, sobretudo, o Bairro Mulungu, rebatizado como Tancredo Neves que explodiu num crescimento que surpreende a todos os estudiosos do assunto e hoje tem uma população estimada em mais de 40 mil habitantes.

O maior fluxo a Paulo Afonso também aconteceu com a melhoria do asfalto da BR-110 e com o asfaltamento da BA-210 mas, também com a proximidade da Cidade de Glória, a nova Glória, construída a apenas 10 quilômetros da sede do município de Paulo Afonso.

A preocupação com a existência de uma única saída da Ilha de Paulo Afonso para o mundo exterior vem preocupando a todos a às gestões municipais já há muitos anos e, infelizmente, o que se vê é um rosário de promessas de solução sempre nos períodos eleitorais para a escolha de governadores, deputados, senadores...

Ainda na gestão do prefeito Raimundo Caires Rocha houve a tentativa de se oferecer aos pedestres uma forma de cruzar a ponte sem o desassossego de disputar espaço com veículos de todo tipo, incluindo grandes carretas e ônibus.

Para avivar a memória dos mais esquecidos, lembro que Paulo Afonso já teve um Ministro das Cidades, ministério dos mais importantes do governo federal, ele com casa instalada na principal Avenida de Paulo Afonso, a Av. Apolônio Sales.

Pelo jornal Folha Sertaneja, em uma das entrevistas que fiz com o ministro, levei a ele essa preocupação da existência de uma única ponte de acesso à Ilha de Paulo Afonso, que além de ter o alambrado muito baixo, tinha o crescente fluxo de veículos, motos, carroças de tração animal, bicicletas e muita gente a pé, por ela.

Embora adversário político do grupo que estava na gestão municipal, cujo prefeito era Anilton Bastos Pereira, o Ministro Mário Negromonte disse estar à disposição do prefeito em seu gabinete em Brasília para verem uma solução para o problema da ponte da Ilha.

O prefeito Anilton Bastos lá esteve, acompanhado do Procurador Geral do Município, Dr. Flávio Henrique e levou a proposta do munícipio com esse objetivo.

Todos sabemos que nada foi feito. Cobrado sobre isso, o que disso o então ex-ministro foi que o prefeito não levou o projeto quando se sabe que projetos desse porte são muito caros e o seu custo faz parte de todo o projeto de quem o executa.

Ainda no final do ano de 2009, o prefeito Anilton Bastos, que estava em Salvador, saiu dali, acompanhado do então Deputado Estadual Luiz Barbosa de Deus e do Deputado Federal José Carlos Aleluia, para o Recife para uma audiência com o presidente da Chesf, na época Dilton da Conti.

De Paulo Afonso saímos eu, que na época era Diretor do Departamento Municipal de Turismo e a Secretária de Planejamento, Patrícia Alcântara para nos encontrar com o prefeito e os deputados no Recife para essa audiência com o presidente da Chesf. Daqui levamos duas propostas de projetos: uma, de autoria do Departamento de Turismo, pedindo à Chesf, a revitalização dos lagos do Acampamento da Chesf, já bem comprometidos naquela época. Argumentamos que, embora a Chesf tivesse passado toda a área do seu Acampamento, para a gestão municipal, anos antes, no governo do prefeito Paulo de Deus, seria grande colaboração da Chesf, uma vez que a hidrelétrica possuía um grande Departamento de Meio Ambiente na empresa.

A arquiteta Patrícia Alcântara, Secretária de Planejamento da Prefeitura levou ao presidente da Chesf o pedido de duplicação da ponte da Ilha ou a construção de outra ponte, em outro local.

O presidente da Chesf recebeu os documentos, friamente e o assunto morreu nesta reunião, em dezembro de 2009.

Mais recentemente, e lá se vão alguns anos, em uma das vindas a Paulo Afonso em campanha eleitoral, o atual governador da Bahia, prometeu construir uma nova ponte de acesso à Ilha de Paulo Afonso. Mais ainda, anunciou na imprensa e nas redes sociais que foi aberta uma licitação para a apresentação de um projeto dessa ponte e se chegou a anunciar a empresa que teria ganho a concorrência.

E, lamentavelmente, o assunto novamente vive adormecido em alguma gaveta por aí.

Digo lamentavelmente porque os problemas de acesso à Ilha de Paulo Afonso vêm se ampliando a cada dia.

Um ano desses, um trio elétrico ao passar nessa ponte causou o maior desconforto porque o balanço provocado pelo grande peso assustou a todos.

Há poucos dias, um acidente em cima da ponte deixou, literalmente ilhados todos os moradores da Ilha e da cidade, por duas horas.

Alguém sugeriu que a solução seria a abertura dos dois acessos da Chesf, por dentro de suas usinas hidrelétricas – a Usina Apolônio Sales, no sentido de Alagoas/Pernambuco e a Usina Paulo Afonso 4 – no sentido Bahia e Alagoas.

Isso, certamente, vai exigir uma grande negociação entre a Prefeitura e a Chesf que, nos últimos anos não têm tido um diálogo de grandes amigos.

E, como tem acontecido em todos os anos eleitorais, não estranhem se não já se estiver preparando belos discursos para anunciar que “prometo que a segunda ponte da Ilha de Paulo Afonso será construída logo após a posse do meu candidato”.

Ou alguém já esqueceu que a UTI de Paulo Afonso, que ainda não temos para uso geral, foi prometida por um candidato a governador, em cima do palanque ao lado do colégio Montessori, em frente ao Centro Cultural Lindinalva Cabral, na presença do prefeito Raimundo Caires, do Administrador da Chesf, Gilberto Pedrosa e do Secretário de Saúde do Estado, Jorge Solla, e o candidato, reeleito, assegurou a plenos pulmões: “dentro de 60 dias volto a Paulo Afonso para inaugurar a UTI de 30 leitos no HNAS”.

Ah!, Por falar em Hospital da Chesf, alguém se lembra quando começou essa “novela mexicana”?

Como podem ver, de muros e de pontes e UTIs, temos uma longa história e, em 2022 teremos eleições para governador, deputados, senadores...

Antônio Galdino da Silva

Professor, especialista e mestre em Turismo (aposentado), escritor.

Paraibano de Zabelê/Monteiro.

Pauloafonsino por adoção e de coração desde 1993.

 


 





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3 comentários


Danilo Souza

06/09/2021 - 22:10:47

Belo texto da nossa história.Precisamos ficar atentos com estes políticos satélites.Paulo Afonso é Terra de muitos encantos.


Edson Barreto

06/09/2021 - 16:57:44

Parabéns pela belíssima matéria, professor Antônio Galdino. Ao falar sobre pontes, muros e as águas infindas do Velho Chico, resumiste a nossa história cravada pelas construções de usinas e geração de energia elétrica. Destarte, o nosso povo heroico resistiu às tormentas e agora anseia por melhorias de trafegabilidade, cujo marco seria uma nova ponte ou a duplicação da existente de acesso livre.


Negritto

06/09/2021 - 16:14:01

Que texto, a cidade é rica agora só depende deles querer, mas tem que ser um querer de verdade, esse de Raimundo Caires ai é suicídio, nunca vi. Mas quem sabe alguns dele abre a mente lendo o texto.


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