Ainda sobre os bonecos Reborn e descendentes sertanejos...

O Bode Reborn, de Zé de Cida 

Nota do Editor:

Meus amigos leitores deste site: A onda dos tais bonecos Reborn que tem invadido as redes sociais – e dizem alguns que é o com o intuito de abafar o roubo do INSS – continua e já está fazendo nascer novos descendentes sertanejos.

Esses dias vi um vídeo onde uma patricinha armava o maior fuzuê em um supermercado porque alegava que estava conduzindo um bebê (reborn) no seu carro de compras e, portanto, tinha direito, assegurado pela lei, à prioridade na fila... Ameaçou até chamar a polícia... 

Vixe, danou-se...

E, quando pensei que a coisa estava esfriando recebo a informação que “a coisa tá é pior”, como me disse Zé de Tonha, sertanejo forte...

- “Pois é, ‘a coisa’ já chegou no sertão. Agora tem até bode Reborn”. E Zé de Tonha me entregou esse papel que transcrevo pra vocês também ficarem sabendo das novidades do Sertão... Fui saindo pra tomar um ar e quando me dei conta estava assoviando uma música se Sílvio Brito que diz: “Tá todo mundo louco... ou...ou...” 

Ah, gente. Licença aí... e desculpem o atraso. Mas, quando eu 'tava assoviando a música de Sílvio Brito, Zé de tonha apareceu de novo, puxou meu braço e disse ligeiro, antes de escafeder-se de novo...

- E olhe, viu, que como essa história tá esticando mais que novela mexicana, não estranhe se logo, logo, aparecer outro capítulo, e mais outro e outros... (Professor Galdino – editor do site)

O Bode Reborn, de Zé de Cida

Luciano Jr.

No meio desta confusão de bebê reborn, eis que Zé de Cida, famoso doido de Macururé, cismou de também ter um bichinho reborn.

Como louco varrido ele já preenchia o primeiro requesito para ter um bebê reborn, mas o problema é que ele não queria nem um bebê reborn... queria era um bode reborn.

Sim, um bode.

Enquanto as moças das capitais exibem seus bebês de silicone com cílios postiços e roupinha de maternidade, Zé apareceu, sábado passado, na feira de Chorrochó segurando um paninho branco e dizendo que ia ser pai. A notícia correu mais ligeira que boato em fila de banco.

— É menino ou menina, Zé? — perguntava o povo entre gargalhadas e espanto.

— É bicho! — ele respondia com orgulho. — Um bode. Mas reborn, viu? Com alma lavada, passado esquecido e futuro brilhante!

Diz ele que sonhou com isso. Que uma voz angelical — ou talvez fosse o rádio da vizinha tocando alguma música religiosa — anunciou que estava na hora dele também cuidar de uma criatura especial. Só que, como alma inquieta que é, Zé não quis boneca de plástico. Quis foi o companheiro de infância que nunca teve: um bode que não comesse papel, não subisse em cima da cisterna e não deixasse rastro no terreiro. Um bode renascido. Um bode ideal.

Na loja de brinquedos de Juazeiro, causou confusão.

— O senhor quer um quê?

— Um bode. Mas reborn. Que olhe nos meus olhos e me compreenda!

A moça da loja chamou o gerente. O gerente chamou a psicóloga da prefeitura. A psicóloga, por fim, pediu um café e disse:

— Zé não é doido. É visionário. Só está dois passos à frente da moda.

E assim nasceu Zezin, o bode reborn. Feito à mão por dona Alzira, artesã que há muito já costurava travesseiros com cara de galinha e agora, desafiada pela genialidade de Zé, moldou um bode de pano, com chifre de feltro, olhar meditativo e uma barba postiça de algodão. Tinha até cheiro de capim-limão.

Zé passou a desfilar com Zezin pela cidade, levando-o num sling de rede como se fosse um bebê do interior da França. Dando mamadeira de água de coco, fazendo selfie e postando com legenda:

"Enquanto os outros cuidam de boneca de plástico, coisa de doido, eu cuido do meu bode com alma."