Um atendimento no hospital do Mulungu
Francisco Nery Júnior
A sogra tropeçou no seu carrinho de feira e caiu ao atravessar a rua. Sofreu alguns arranhões e fraturou o osso do braço.
A turma do Mercado Municipal não poupou cuidados e foram [eles] de uma assistência exemplar e mesmo tocante.
A dúvida era chamar o SAMU, exemplo do que tem dado certo no Brasil. A paciente, porém, preferiu chamar a filha e o genro. Ainda bem que os inimigos do homem não conseguiram, ainda, acabar com a família. Desvalorizaram a escola, escantearam a igreja, mas o sangue tem prevalecido na família.
Então para onde ir; buscar ajuda. “O Nair Alves de Souza não tem aparelho de raio-x”, gritou logo alguém bem informado. A opção foi partir para o Hospital do Tancredo Neves que bem poderia já ter resgatado o nome de Mulungu.
Engarrafamento para tentar atravessar a ponte do canal. Miríades de quebra-molas a atrasar o socorro fundamental para salvar uma vida. Trajeto de quilômetros em uma rodovia estadual de mão dupla, tudo a testar a paciência e o estado psicológico de quem tenta salvar uma vida em direção àquele hospital.
No nosso caso, a paciente chegou viva e, importa atestar, recebeu um atendimento exemplar. Louvamos e agradecemos a dedicação do pessoal. Não é preciso muita observação para verificar que lutam contra toda espécie de carência: instalações precárias, corredores cheios, insuficiência de leitos, salários não condizentes.
Junto com a turma que trabalha, parte dela, são eles que fazem o Brasil funcionar a despeito de todas as injustiças e desigualdades escandalosas mantidas por quem tem o seu lobby particular.
Nos arredores do hospital, durante a espera do final do atendimento, a observação de uma população que se vira como pode para sobreviver; uma população que trabalha. Final do turno matutino e os alunos do colégio ao lado a voltar para casa certos do almoço pronto preparado com todo zelo pela mãe. Eles acabaram de ter aulas ministradas por professores que, indiscutivelmente, só desejam o desenvolvimento da sua capacidade de observar e raciocinar a despeito de inúmeras dificuldades e deficiência de material didático.
O presidente do Brasil está neste momento de mãos dadas com o presidente da França onde acaba de receber o título de doutor honoris causa de uma universidade de Paris. O nosso presidente, daqui pra frente, é o doutor Luiz Inácio Lula da Silva. Feliz da vida, pulou e saltou, tagarela como sempre, em acrobacias de dar inveja a qualquer um de nós, míseros cidadãos de um país que teima em não se desenvolver.
Francisco Nery Júnior