O Restaurante Popular
Francisco Nery Júnior
No Brasil, para trás as mãos estendidas a esmolar. Acabou a miséria absoluta. Até médicos passavam necessidade cem anos atrás. Parece desinformação, mas a afirmação está em Sepultando os meus mortos por Humberto de Campos.
O Restaurante Popular alimenta os nossos desprovidos da sorte, sejam os do Bolsa Família, sejam os esquecidos – e alguns classe médias dotados de humildade. O Papa Leão XIV acaba de condenar o sistema econômico do momento que, não obstante, provê os escapes necessários para evitar uma explosão social. Um deles, o restaurante popular e as cozinhas comunitárias financiados com o dinheiro dos que trabalham e fazem a economia crescer.
Interessante – e intrigante – que uma das maneiras mais fáceis de diminuir substancialmente o chamado gap diferencial entre as classes é categoricamente rechaçada por quase todo cidadão brasileiro, inclusive pelos mais ardorosos defensores da igualdade dos cidadãos. Falamos do imposto sobre herança já adotado nos países avançados. É o tal do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. O referido imposto fica bem acima dos trinta por cento em países como a França, o Reino Unido, os Estados Unidos e o Japão. Entre nós, país onde abundam os defensores dos pobres, varia de um a cinco por cento (o critério de taxação fica a cargo dos estados}.
Nem depois de morto o ferrenho defensor dos descamisados concorda com uma justiça social realizada com os seus recursos. Ela, a tal justiça, só com o dinheiro dos outros!
A realidade, porém, é que o nosso Restaurante Popular vai cumprindo um belo papel de apoio aos pobres. Nesse ínterim e nesse contexto, considerando o princípio da dignidade humana, poder-se-ia pensar em algum tipo de retribuição por parte dos comensais: plantar uma árvore, adotar ou proteger um animal de rua, varrer a área em frente à sua casa, evitar jogar entulho na via pública, fazer pequenas manutenções nas praças, e assim sucessivamente.
Não se trata de cobrança ou alegação. Trata-se de prover um meio de o cidadão se sentir útil e, consequentemente, parte importante da sociedade. Trata-se, inclusive, de exercitar o corpo para um melhor desempenho físico. Faz bem o senhor prefeito quando eventualmente troca lâmpadas na cidade e realiza pequenos consertos nas viaturas municipais. O exemplo de cima para baixo é fundamental; é a melhor pregação.
E, evidentemente, o trabalho edifica o homem que, fundamentalmente, quer ser respeitado e não quer ser tutelado. Se em uma situação de pobreza ele caiu, dela ele anseia sair com dignidade. A menos que interesse a alguém manter o status quo em benefício outro – o que é simplesmente desprezível.
Francisco Nery Júnior