A maldição teria recaído sobre o transatlântico Titanic que afundou na sua viagem inaugural da Inglaterra para os Estados Unidos em 1912. Os fabricantes teriam afirmado que o navio era inafundável. Teriam dito que "este, nem Deus afunda". Aqui no Brasil, Tancredo Neves afirmou (fato publicado pela revista Veja), em resposta a uma jornalista, que "agora nem Deus impede que eu seja eleito". Foi internado na noite da véspera do dia da posse - que nunca aconteceu - e morreu poucos dias depois.

O Le Figaro publica a confirmação da morte dos cinco passageiros do submarino OceanGate perto dos destroços do Titanic. O submersível, que havia desaparecido dos radares há alguns dias, teria "implodido".

Windy Rush, esposa de Stock Rush, dono do OceanGate, uma das vítimas da implosão, é trineta de dois passageiros de primeira classe mortos no naufrágio de 1912. Eles teriam mesmo sido representados brevemente no filme de James Cameron. Assim teria sido gerada a paixão do milionário pelo Titanic.

A afirmação do Le Figaro se baseia em uma pesquisa do New York Times que traçou a genealogia do fundador do OceanGate e da sua família.

Cá entre nós, para nosso governo, melhor não brincar com Deus.

Francisco Nery Júnior  

A vida para os três milionários mortos no fundo do mar

O que seria a vida na cabeça de um milionário? Qual o sentido? Qual o valor? Quais as responsabilidades? No caso, qual o sentido da existência humana na cabeça dos três milionários mortos na aventura de observar os destroços do transatlântico Titanic no fundo do mar? Vamos ignorar os outros dois tripulantes, pai e filho, para nos poupar um pouco.

Primeiro, o francês Paul-Henri Nargeolet. "Você fica no fundo [do mar] durante 4,5,6, 7 ou 8 horas que é o período mais longo. E mesmo assim, você não tem vontade de subir. Às vezes, eu vou até o fim das baterias e às vezes até um pouco mais. Aliás, por outro lado, eu já me repreendi várias vezes por isso."

O britânico Hamish Harding possui muitos assentos de recordes no Guiness. Em 2021, ele efetuou um mergulho de 4.600 metros na Fossa das Mariannes a bordo de um submersível de dois assentos. Ano passado, foi ao espaço a bordo do foguete Blue Origin.

O americano Stockton Rush era o dono da OceanGate Expedition, cujo submersível implodiu perto do Titanic. Descrito como um aventureiro "quebra-pescoço", casse-cou em francês, pessoa que se lança em uma aventura perigosa sem calcular as consequências. Não foi a primeira vez que houve problemas com um submarino da empresa. Uma vez Stockton Rush afirmou que "sabe, a um dado momento, a segurança é uma perda de tempo e recursos e impedimento. O que quero dizer é que se você simplesmente quer permanecer em segurança, não saia da cama. Não entre no seu veículo. Não faça nada. Às vezes você vai assumir riscos, e é realmente uma questão de risco. Eu acho que posso fazer tudo realmente infringindo as regras."

O comentário de um leitor francês do Le Figaro de onde traduzimos as informações acima: "Por que essa paixão mórbida por esses destroços? Existem outros bem mais gloriosos. Em todo caso, essa postura lhes foi fatal em detrimento de terem consagrado o seu dinheiro e a sua energia para o bem-estar da humanidade".