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Professor Nery

Nos tempos do professor Silva

Publicada em 30/01/23 às 12:38h - 584 visualizações

Francisco Nery Júnior


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Nos tempos do professor Silva
 (Foto: Acervo Antônio Galdino)

Perdi a minha semana. Planos para adiantar isso e aquilo. Enquanto vivos, há que se adiantar. Perdi a semana. Acordo, segunda-feira de manhã, e a notícia da morte do professor Severino Silva. E o ânimo para a semana foi embora. 


Silva foi meu amigo. Não falava muito em Deus. Mas não tinha a vingança [mesquinha] na alma. Recém chegado de Salvador, eu era expansivo, proativo, comunicativo ou o que quer que seja. Aos poucos a moldagem foi se estabelecendo. Logo, não tão logo assim, aprendi o jeito matreiro do sertanejo desta região. Ele não se abre logo de partida, foi o que aprendi. Então, nesse início, no Colepa, Silva era, para mim, Silva Pen. Assim o chamava e dele soube aproveitar muitos conselhos. 


Pouco após, me deram um empurrãozinho e me transferiram para outro setor da Chesf. Fui assessorar outro grande gigante da Administração do Acampamento, o engenheiro Frederico Fausto. Estava em casa e o contínuo me entregou uma convocação do professor Silva, agora APA (Administrador de Paulo Afonso). Silva cogitava me transferir para Petrolândia, para comandar o processo de extinção do Serviço de Ensino daquele Acampamento, por dois anos. 


Silva, por amor de Deus, não nasci para ser chefe, argumentei. Ele insistiu. E eu acrescentei que só iria com o sentido de missão [dada por ele]. “Mas é por aí, Nery”, redarguiu. Com o tempo, apareceu outra solução e ele se esqueceu de mim. Eu já havia sido chefe do Serviço de Hospedagem em uma das férias de Eronildes, com o apoio de Silva. 


O tempo passou e veio o bloco de demitidos do Governo Collor. Agora, eu no CFPPA (a Escolinha). Fui no meio dos demitidos. Apesar da preocupação com o futuro, um alívio na alma. Certos alívios valem a pena. Nem tudo na vida é grana, viagens e carrões. A dignidade vem em primeiro lugar. Ademais, só se vai para a frente com um tombo. Vale ainda notar que, nos dias precedentes à publicação dos “demitidos”, durante a boataria infernal, não me movimentei nem movi uma palha sequer. Aguardei o desenrolar da História e estou aqui para contar a história gordo e feliz. Não me humilhei nem pedi emprego menor a quem quer que seja. Entrei na Chesf por concurso, passei em segundo lugar dentre os dez classificados de mais de 300 candidatos e me sabia capaz de passar em outros concursos – como vim a passar. 


No dia da minha demissão, a ordem da chefia do Colepa para meu filho Mário – repetindo, no alvorecer do dia da demissão - ser arrancado da Escola Boa Ideia. Considerando que cerca de 60% dos alunos do sistema não eram filhos de empregados da companhia, o leitor pode avaliar o grau de vingança naquela ordem. 


Corri para a Boa Ideia – e fiz isso por Mário – e falei com a diretora Ana Miná. Dela a resposta: “Fique tranquilo, ele fica aí”. De lá, me dirigi ao APA, o nosso professor Silva, que confirmou a posição de Ana Miná. Mário terminou o ano letivo e continuou os seus estudos no COLÉGIO SETE DE SETEMBRO. 


A vida continuou para mim com Mário no Sete, sem demissão da minha secretária Nilma e com as minhas viagens de estudo. Cresci e mais cresci – como vejo crescer os meus leitores. 


O que deixei de ganhar nos vinte anos fora da Chesf, ganhei em uma série benevolente de questões e indenizações. Voltei ao cargo de professor da Secretaria de Educação no quarto concurso em que fui aprovado. Fiz muitos e inefáveis amigos e até hoje gotejam os resultados. 


Apenas a título de registro, fui readmitido na Chesf após vinte anos fora dela, servi por mais cinco anos até aderir ao Plano de Demissão Voluntária.  


Data vênia do leitor, todo esse bolodório para chamara a atenção do valor do professor Severino Silva na minha vida profissional. Decisões de um homem de bem, não vingativo, amante da simplicidade que soube repartir com a família até a sua morte. 


Mais de uma vez demonstrei a Silva o meu agradecimento até que ele, enfaticamente, me respondeu que eu não lhe devia nada. “Você não me deve nada”, foi assim. 


Um dia, em conversa com os seus filhos, também honrados, argumentei que eu não tinha o direito de exigir de Silva nenhum risco a meu respeito. Eu já sabia que, na reunião para decisão das demissões, outro personagem, que também já passou, tentou salvar a minha cabeça para ser perguntado se ele queria ir em meu lugar. 


E para encerrar mesmo esta longa conversa, eu saí da Chesf porque não quis voltar para o Colepa. O colégio precisava de um professor de inglês ou português, sei lá, e a Administração queria o meu retorno. Dezenas de professores tinham passado pela escola e por que só eu teria que voltar? Assumi a minha posição, a minha recusa, e não me arrependo. A minha volta era perigosa. Poderia, hoje, estar na cadeia ou no cemitério. Foi melhor assim. 


Esta, leitor, foi a minha opção de louvar o caráter e a responsabilidade do professor Silva e dar uma satisfação talvez final aos leitores que a merecem. Longe o caráter de vitimização. Pelo contrário, o descortinamento de alguém cheio de defeitos, porém com algumas virtudes, que adora conversar com os seus leitores. 


Francisco Nery Júnior  



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