Há algo de efêmero nas coisas que nos chegam sem esforço, como se o universo sussurrasse um aviso silencioso: "O que vem fácil se vai com o vento." Essa frase, da matricar da família de Lúcio Flavio e Júnior Imagem, carregada de sabedoria popular, ecoa em minha mente quando reflito sobre os momentos em que as conquistas parecem cair do céu, como se o destino estivesse sorrindo para nós.
Lembro-me de uma tarde de verão, quando, ao caminhar à beira-mar, encontrei uma concha perfeitamente esculpida pelo oceano. Sua beleza era cativante, e sua jornada até a praia parecia ser um presente da natureza. No entanto, ao segurá-la nas mãos, percebi o quão frágil ela era. Era como se o mar a tivesse emprestado por um breve momento, antes de levá-la de volta para as profundezas.
Assim como a concha, muitas das coisas que nos chegam facilmente na vida têm uma tendência a desaparecer da mesma maneira. Relacionamentos que começam sem esforço podem se dissipar com a mesma rapidez, enquanto oportunidades que parecem cair do céu muitas vezes se revelam efêmeras. O que vem fácil pode ser fugaz, como uma brisa de verão que desaparece no entardecer.
No entanto, essa reflexão não deve nos desencorajar a buscar o que desejamos. Pelo contrário, ela nos lembra da importância de valorizar e cuidar do que temos, mesmo que tenha vindo até nós de maneira aparentemente simples. Devemos entender que, embora o vento possa levar embora o que nos foi dado, o verdadeiro valor está em nossa capacidade de apreciar, nutrir e manter o que recebemos.
Então, da próxima vez que a vida nos presenteie com algo que pareça fácil demais, lembremos da lição da concha à beira-mar. Valorizemos o presente, pois mesmo o que vem fácil pode ser uma dádiva passageira. E, talvez, ao fazê-lo, possamos aprender a segurar o que é efêmero e apreciar o que permanece, construindo algo duradouro sobre as areias da vida, vendo os meses passar em calendários de gatinhos...
Luciano Júnior
Do livro: Minhas Crônicas no Exílio