Nota do Editor:
Chega à Redação deste site, em tempo oportuno, o texto que segue, do colaborador Luciano Jr. que traz à memória um fato que teve a participação, como tantos outros, do querido D. Mário Zanetta, que foi o terceiro bispo de Paulo Afonso, durante mais de 10 anos, de 14 de agosto de 1988 a 13 de novembro de 1998 e deixou marcas indeléveis de sua passagem por esse lugar.
Digo, em tempo oportuno, porque estaremos apresentando, periodicamente, textos e ilustrações de resgate da HISTÓRIA e da MEMÓRIA de Paulo Afonso, neste site e no Jornal Folha Sertaneja, de minha autoria ou de colegas escritores, cronistas colaboradores destes veículos de comunicação, para que a atual geração e as futuras possam conhecer um pouco melhor sobre pessoas e instituições desta terra, Oásis Sertanejo, em suas origens, nos seus primeiros anos de vida. E, que bom trazermos à memória D. Mário Zanetta.
Nos próximos dias estaremos falando da cerca e do muro da Chesf. Em outros momentos falaremos de outras pessoas, prédios, instituições que também têm muita história, fatos, reapresentando reportagens de revistas dos anos de 1940, 1950 sobre essa região... Aguardem. E obrigado aos quase 7 mil internautas que nos acompanham todos os dias.
Saudosista ou memorialista, insistimos em mostrar o passado porque é importante conhecê-lo para se planejar o futuro.
Obrigado Luciano Jr. por esse resgate precioso. Até breve, internautas.
(Professor Antônio Galdino da Silva - Editor do site, diretor do Jornal Folha Sertaneja)
Dom Mário,
a Vaca Mecânica e o Primeiro Computador de Paulo Afonso
Luciano Júnior
Às vezes, a internet, essa caixa de surpresas, nos prega peças boas. Hoje, no almoço, enquanto navegava distraidamente, me deparei com o vídeo da reabertura do restaurante popular Dom Mário Zanetta. E, como num daqueles filmes em que a câmera faz um zoom dramático, minha mente foi teletransportada para o passado, para os anos em que Dom Mário, o maior empreendedor social de Paulo Afonso, sonhava com a possibilidade de transformar a vida das famílias carentes.
Ah, Dom Mário! Era daqueles que não sonhavam pequeno. Quando falava da "vaca mecânica", seus olhos brilhavam mais do que lâmpada de estádio em final de campeonato. Para quem não conhece, essa vaca não mugia, não comia capim e muito menos tinha rabo. Era uma máquina que produzia leite de soja em quantidade, um avanço revolucionário para alimentar a população carente da região. Quantas crianças foram salvas da desnutrição por ela...
E como ele conseguiu essa façanha? Amigos italianos, com certeza! Numa época em que pedir um computador era quase como solicitar uma viagem à lua, ele não só trouxe uma vaca mecânica, mas também conseguiu um dos primeiros, ou certamente o primeiro, computador da região, um verdadeiro PC XT, depois de sonhar muito.
E como ele chegou até nós? Ah, aí que a história fica engraçada.
Recordo-me bem do dia em que o ex-marido de Marileide, da Montessori, (não recordo o nome dele e nem sei se ainda é vivo, mas aquele simpático senhor foi o portador de tão importantes aquisições) adentrou a sede da Fonte Viva e anunciou: "A caixa está no caminhão lá fora, tem alguém para tirar?" Claro que tinha! Saímos correndo, adolescentes ansiosos, com o coração acelerado como quem vai encontrar a namorada pela primeira vez. Íamos sair de um sistema meio informatizado (forma composer) para a informática não dedicada ou pura.
Mas, ao nos depararmos com o caminhão, surpresa: em vez de caixas cheias de tecnologia, vimos um caminhão abarrotado de... soja. Isso mesmo, soja para alimentar a vaca mecânica de Dom Mário! Até o motorista, coitado, estava tão perdido quanto nós. Ele apenas apontou para o fundo do caminhão e disse: "Vão afastando os grãos de soja que a caixa está no meio."
E assim, entre grãos de soja e risadas, desenterramos o que talvez tenha sido o primeiro computador da região. Dois sonhos de Dom Mário se concretizavam naquele fim de tarde: a chegada do tão aguardado computador, que mais tarde ajudaria a produzir livros, jornais e revistas, e a inauguração da vaca mecânica, que nos anos seguintes alimentaria tantas famílias.
Dom Mário não apenas pregava a fé, mas a vivia em cada ato, encorajando, alimentando e formando irmãos e irmãs caríssimos, como ele carinhosamente se referia. Seu nome no restaurante popular é uma homenagem mais do que justa a esse homem que, com seu coração de padre e alma de empreendedor, transformou a vida de tantos.
E é assim que a memória se mantém viva, com cheiro de leite de soja e cliques de teclados antigos, como as histórias que se recusam a desaparecer, mesmo quando a tela do celular se apaga.
Eu sou testemunha de quando essa vaca mecânica começou a funcionar num local ao lado da casa da criança no terreno do lar vicentino. Me tornei uma voluntária para levar esse leite de soja para uma creche no BTN, que ficava por trás da igreja católica principal.Executei esse trabalho voluntário por mais de 5 Anos. Era uma alegria quando eu chegava na creche com esse leite de soja.