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Destaque do Jornal Folha Sertaneja

Maio/2024 - De Mulungu a Tancredo Neves - 54 ANOS

Publicada em 07/06/24 às 12:05h - 325 visualizações

Antônio Galdino


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Maio/2024 - De Mulungu a Tancredo Neves - 54 ANOS
 (Foto: Arq. do jornal Folha Sertaneja)

Do Editor

Nesse espaço do site chamado Destaques do Jornal Folha Sertaneja, costumamos reapresentar matérias que estiveram em destaque na Edição Online deste jornal na edição anterior, principalmente. 

Na edição de Maio de 2024, assim como trouxemos os conteúdos com o registro da história mais recente de Paulo Afonso e região, destacamos algumas matérias que são um resgate da memória de pessoas ou instituições como é o caso do importante Bairro Tancredo Neves que nasceu de forma delicada e se agigantou sendo hoje, 54 depois de sua criação, uma referência econômica, na educação e social para a região e cuja população é bem maior que muitos dos municípios da região. 

O hoje BTN, que já se chamou Mulungu, nas suas origens, tem sido olhado com mais atenção pela gestão municipal, especialmente pelo seu poder de, pelo número de eleitores e sua consciência política, mudar o destino político e administrativo do município. E terá grande peso nas eleições deste ano, como já tem acontecido em outros anos.

Escritores, membros da Academia de Letras de Paulo Afonso como Francisco Nery, Antônio Galdino, João de Sousa Lima, têm escrito sobre esse populoso e importante Bairro. O escritor Gecildo Queiroz, um bom contador de histórias, escreveu um livro chamado A Semente do Mulungu, de certa forma, associado ao nosso tema...

No ano de 2020, quando o Bairro Tancredo Neves completou 50 anos, o Jornal Folha Sertaneja trouxe uma reportagem de várias páginas destacando personagens importantes de sua história. Na época, um dos colaboradores foi o querido Professor José Maria, de saudosa memória...

Professor José Maria Rodrigues - ex-diretor do Colégio Estadual Quitéria Maria de Jesus - in memoriam

(Se alguém desejar receber essa Edição 193 deste jornal, em PDF, é só enviar uma mensagem de textos para o WhatsApp 75-99234-1740 dizendo para onde devemos enviar, se para o seu WhatsApp ou E-mail).

Aqui, trazemos para o site esse Destaque da edição de Maio/2024 do Jornal Folha Sertaneja online, com o resgate de alguns momentos desta história e da memória de homens e mulheres que foram pioneiros dessa caminhada iniciada em 1970. (Prof. Antônio Galdino da Silva – Editor do site).

 Maio/2024 - De Mulungu a Tancredo Neves - 54 ANOS

Antônio Galdino da Silva 

Em 10 de maio de 2024 o Bairro Presidente Tancredo Neves, conhecido com BTN e suas ramificações 1, 2 e 3 e outros bairros a ele agregados comemora 54 anos de vida e, como toda história de vida de comunidades, teve seus momentos de dor, de aperreio, de incertezas e de crescimento.

E, quando se comemora data tão significativa, Jubileu de Ouro, é importante que se conheça, porque ele nasceu, qual o motivo do seu nascimento e, para isso precisamos fazer uma viagem para o passado e voltar às origens, aos primeiros anos que levaram ao nascimento do Município de Paulo Afonso, da cidade de Paulo Afonso, a quem este populoso bairro pertence.

No final dos anos de 1940 quando toda essa vasta área hoje coberta por milhares de casas, grandes escolas, colégios, hospital, ruas asfaltadas, praças, igrejas era apenas um enorme espaço vazio, pedaço enorme da caatinga e por aqui, nas terras do hoje BTN, na vegetação catingueira, se podia encontrar com facilidade muitos pés do mulungu (Erythrina mulungu) com suas lindas flores e sementes vermelhas.

Por perto, existia a Baixa Funda e a Baixa do Mulungu, hoje debaixo das águas da barragem da Usina Paulo Afonso 4, como lembrou seu João Miguel, morador de Paulo Afonso desde os primeiros tempos da Chesf, em uma participação em programa da Rádio Cultura de Paulo Afonso. Para nascer a Usina Paulo Afonso 4, todas essas áreas foram inundadas.

Os estudos levaram à conclusão que para se construir mais uma grande hidrelétrica, a Usina Paulo Afonso 4, era preciso se aproveitar as muitas águas – um bilhão de metros cúbicos – existentes no Lago Moxotó e para isso era preciso abrir-se um canal com seis quilômetros de extensão e 150 metros de largura e se criar, no seu final outro grande reservatório de águas, o Lago da Usina PA-4.

O Mulungu nasceu por causa da construção do Canal de PA-4

Recordo-me que participei de um evento muito marcante e até inusitado que antecedeu o nascimento do Bairro Mulungu, hoje Bairro Tancredo Neves.

Ainda no ano de 1969 quando eu era correspondente do Jornal da Bahia, de Salvador, recebi um convite do Prefeito Edison Teixeira para ir, como jornalista a uma reunião que seria realizada na residência do então diretor técnico da Chesf, Dr. Amaury Menezes que morava na Ilha do Urubu.

Para se chegar até à sua residência, na época, só era normalmente possível pelo bondinho que passava sobre as quedas do Croatá e ia até a Ilha do Urubu. Nesse tempo, e durante dezenas de anos ainda, as cachoeiras estavam com muitas águas.

Ao chegar ao local do bondinho para ir à residência do Diretor Técnico da Chesf, ali já estavam além do prefeito, todos os vereadores da Câmara Municipal de Paulo Afonso. Embarcamos bondinho, cerca de 14 a 15 pessoas, dentro da capacidade normal do equipamento, conforme nos informaram.

Ligaram o bondinho e ele começou a se movimentar no destino da Ilha do Urubu. De repente, no meio do caminho, muitas conversas animadas, um estalo seco e um solavanco assustou a todos. Depois de uns balanços, o bondinho parou. À distância se via, entre as brunas, o nevoeiro formado pelo impacto das águas das cachoeiras nas pedras, uma movimentação de pessoas, agitadas. E nós, no bondinho, sem nenhuma comunicação. Não havia celular. Entre os passageiros do bondinho, via-se claramente um esforço grande para se evitar o pânico. Era por volta das 8 horas da noite e presos em um teleférico em cima das muitas águas das quedas do Croatá estavam o prefeito, todos os vereadores e o único representante da imprensa escrita da cidade, todos sem nenhuma comunicação com o continente em volta.

Depois de cerca de uma hora nesse clima, um novo solavanco e sentimos que bondinho começava a se mexer e a seguir para o lado da Ilha do Urubu. Enfim, chegamos e todos fomos muito bem recepcionados pelo próprio diretor da Chesf e seus assessores.

O motivo dessa reunião que, por pouco não terminou em tragédia, era justamente para que o diretor da Chesf apresentasse ao prefeito, aos vereadores e à imprensa, o projeto de construção do Canal da Usina PA-4, que levou ao deslocamento de famílias que moravam no local por onde ele passaria para o local onde seria o Bairro Mulungu. 

Padre Alcides, no centro da foto, ao lado do Padre Lourenço (ao seu lado o futuro Padre Pedro) e do 1º Bispo de Paulo Afonso, D. Jackson Berenguer Prado. À direita, Padre Mário Zanetta. 

Nesse trajeto moravam pessoas das comunidades Riacho do Grito, Gangorra, Bairro da Lagoa e Bairro do forno, e esses moradores viveram momento de grande sufoco, nos primeiros momentos quando tratores da Chesf entraram na área e só não derrubaram as casas simples que existiam ali por causa da intervenção do Padre Alcides Modesto Coelho e a atuação da Igreja Católica, através também dos padres Lourenço Tori e Mário Zanetta que anos depois seria o terceiro bispo da Diocese de Paulo Afonso como relata o historiador João de Sousa Lima em seu livro Paulo Afonso e a Vila Poty – a História não contada (Editora Fonte Viva – 2017).

Edison Teixeira Barbosa, terceiro prefeito de Paulo Afonso - de 01/02/1967 a 14/05/2974

Paulo Afonso vivia, como todo o Brasil, a época do governo militar iniciado em março de 1964. O município de Paulo Afonso havia sido considerado como “área de segurança nacional” em face da existência das usinas hidrelétricas da Chesf. Por esse motivo, deixou de haver a eleição para prefeito no ano de 1970 e o médico pediatra chesfiano Edson Teixeira Barbosa que havia sido eleito em 1966 e tomou posse em 1º de fevereiro de 1967 e cujo mandato deveria terminar em 31 de dezembro de 1970, foi mantido no cargo pelo governo militar e foi em sua gestão que nasceu o Bairro Mulungu.

O município de Paulo Afonso completa em 28 de julho, 66 anos de emancipação política. O Bairro Tancredo Neves completou em 10 de maio, 54 anos de sua criação.

Quando o Bairro Mulungu tinha 4 anos, Edson Teixeira renunciou ao seu mandato de prefeito e como não havia o vice-prefeito, quem assumiu a prefeitura foi o vereador Abel Barbosa e Silva, que era o presidente da Câmara, e ficou no cargo até 16 de outubro de 1975, quando o governador Roberto Santos indicou o primeiro prefeito nomeado pelo governo militar para Paulo Afonso, o engenheiro chesfiano de Salvador, José Rodrigues de Figueiredo Barbosa que ficou no cargo até 19 de março de 1979, quando também renunciou.

Abel Barbosa e Silva - Prefeito de Paulo Afonso de 14/05/1974 a 16/10/1975 e de 04/08/1979 a 31/12/1985 - Faleceu em 26/04/2018, aos 89 anos, 10 meses e 23 dias.

O Bairro Mulungu tinha 9 anos no ano de 1979, quando o município de Paulo Afonso foi governado por quatro prefeitos: José Rodrigues, que renunciou em 19 de março; Metódio Magalhães, que era o presidente da Câmara ficou prefeito até 04 de abril, quando o vereador Frederico Fausto Agostinho de Melo, foi eleito presidente da Câmara e assumiu a prefeitura, ficando no cargo até 4 de agosto, quando Abel Barbosa foi indicado pelo governador Antônio Carlos Magalhães e assumiu o cargo de prefeito, sendo o último prefeito nomeado pelo governo militar, terminando o seu mandato em 31 de dezembro de 1985 e passando o cargo ao primeiro prefeito eleito depois do governo militar, o jovem José Ivaldo de Brito Ferreira.

José Ivaldo de Brito Ferreira, prefeito de Paulo Afonso, de 01/01/1986 a 31/12/1988

Foi na gestão do Prefeito José Ivaldo que o Bairro Mulungu passou a se chamar Bairro Tancredo Neves conforme a Lei Municipal Nº Lei 491/1986, de 3 de março de 1986, que passou a valer na data de sua publicação, 4 de março de 1986.

O ex-prefeito José Ivaldo informou que a mudança do nome do bairro foi para atender a um abaixo-assinado com 5 mil assinaturas de moradores do então Bairro Mulungu, pedindo a mudança e por essa Lei Municipal o populoso Bairro passou a se chamar Bairro Presidente Tancredo Neves.

Do ex-prefeito Abel Barbosa, de saudosa memória, ouvi muitas histórias deste Bairro que, para ele, sempre foi Mulungu. A luta para a criação do Colégio Estadual do Mulungu (CEM), foi uma delas. Hoje, esse colégio tem o nome de Quitéria Maria de Jesus (nome da mãe do Chefe Abel), por iniciativa do Professor João César Lopes Mascarenhas, primeiro diretor do CEM, mesmo contra a vontade de Abel Barbosa. Entre os muitos diretores deste Colégio Quitéria citamos também, como uma homenagem, o Professor José Maria, hoje, in memoriam

O Colégio Estadual Quitéria Maria de Jesus, uma referência na formação de professores (Curso de Magistério) passou por grande reforma e ampliação e é hoje dirigido pela Professora Maria do Socorro Feitosa.

Antônio Galdino de Souza, o Bala do Palmeiras, in memoriam

O Bairro Mulungu dos anos de 1970 ao Bairro Tancredo Neves de hoje, tem muitas histórias para contar. De Abel Barbosa e do Antônio Galdino de Souza, o Bala do Palmeiras, um lutador pelo esporte no bairro, também como forma de ajudar os adolescentes a não se perderem nas drogas.

Josefa Olívio, in memoriam

Mulungu da minha tia por afinidade Josefa Olívio, filha de D. Maria Pinto, parteira experiente da minha Zabelê, que foi a parteira quando eu nasci e foi assim com milhares de mulheres naqueles idos dos anos de 1940. Mulungu do vereador Antônio Calado, eleito em 1982 de todos os vereadores, o pioneiro, de saudosa memória. Dos vereadores de hoje desses muitos bairros BTN e seus vizinhos, formando juntos uma comunidade gigantesca e importante.

Dessas mulheres pioneiras e sempre guerreiras, D. Rita Fagundes, mãe do Padre Luiz Tibúrcio. D. Noêmia, que continua com suas ações sociais que viveram e conhecem as primeiras histórias desse grande bairro, maior que muitas cidades de região, e ainda hoje estão em evidência fazendo o bem, ajudando os mais humildes do Bairro. De muitos outros pioneiros e seus descendentes e dos novos, vereadores, empresários, trabalhadores que transformaram o Mulungu numa importante comunidade do município de Paulo Afonso com o poder de mudar a história de uma eleição municipal.

Parabéns Bairro Tancredo Neves, gigante de 54 anos de vida intensa, promissor, de raízes históricas e memórias de pessoas pioneiras que precisam ser preservadas e com uma população crescente com o olhar para o futuro.

Obras consultadas:

De Forquilha a Paulo Afonso – Histórias e Memórias de Pioneiros

Antônio Galdino da Silva – Editora Fonte Viva/Paulo Afonso-BA 2014

PAULO AFONSO E A VILA POTY – a História não contada

João de Sousa Lima - Editora Fonte Viva/Paulo Afonso-BA - 2017

ABEL BARBOSA – o inventor de Paulo Afonso

Antônio Galdino da Silva – Editora Oxente/Paulo Afonso-BA - 2019

A Semente do Mulungu

Gecildo Queiroz – Editora Oxente/Paulo Afonso-BA - 2020

 

 




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