O colega e imortal Edson Mendes faz uma abordagem inteligente e gostosa do português do Juá. Bom de ler e ir navegando em linhas bem pensadas em contraposição a estar no celular a seguir e deixar-se levar pelos influenciadores e gurus da nossa era digital.
O português é uma delícia. Menos aglutinado que o inglês e mais significante que o francês, é uma delícia. Assim sendo, importa, sem proclamar a rigidez, manter um mínimo do padrão em benefício da própria língua.
Certo, certíssimo quando Edson prima pela comunicação, primordial função da língua. Alguém grita “salve eu” e é salvo. Bate no estômago e alguém lhe dá de comer. Lança um olhar de soslaio e transmite uma reprimenda. Não foram necessárias palavras, ou estruturas outras da língua. Entretanto, houve comunicação.
O pessoal, nas nossas beiras, às vezes sobe um pouco o tom e parte para o clássico e erudito. Eles falam parabélum e adjutório (do latim), usam entonces, arribar e pregunta (espanhol) e usam enxu como sinônimo de enxame. Quando batem[os] o pé, sai o expletivo porra, cujo diminutivo é porrete; pedaço de pau. Estava em um restaurante em Madri quando um garçom gritou para a cozinha que desejava duas porras. A minha curiosidade foi resolvida quando o cozinheiro lhe entregou dois churros grandes em uma bandeja.
Preocupante, para a norma culta, deslizes do sul do Brasil que vão sendo usados e aceitos sem pudor: depois virou dipois, advogado passou a ser adevogado e o ditongo ei foi reduzido para ê (segunda-fêra, cozinhêra, perêra) e assim sucessivamente. Aqui pelo Nordeste, arreitado foi reduzido para arretado que ficou retado na Grande Salvador.
E sinaleira, retrovisor e meio-fio (o fio d’água corria pelo meio da rua) foram substituídos por outros termos por sua vez.
Ficamos por aqui, considerando que o ponto alto da festa pertence a Edson Mendes.
(Veja texto de Edson Mendes sobre o tema no link abaixo):
https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/opiniao/748641/1
Francisco Nery Júnior
Líquido e certo para mim o direito de o autor não considerar termos ou estruturas - aceitas - com as quais não simpatiza. Assim sendo, [eu] desconsidero o particípio [passado] pego (pêgo) e a construção "um dos que mais falou". Há estruturas próprias3z8nz8 como "não me lembra" de Machado de Assis.
Meu presidente Isac: Uma beira do ramo acha que o poema, a produção literária, é o que estava ou o que saiu da cabeça do autor; sua percepção. A outra beira, o que o leitor percebe quando lê. Nessa segunda hipótese, o fato de você achar o texto "espetacular"; o mérito é todo seu. Ah, tenho dito. "Desaforo" devolvido!
Esse texto é espetacular, me deleitei. O nosso erudito Edson Mendes poetizou o linguajar das pessoas comuns, simples, que têm, como se diz, "papo reto", enfim, afastou a pecha preconceituosa que pesa sobre a fala do homem do campo, um texto humanizado, como assim o é o seu autor. Não menos poético, o nosso Nery, igualmente erudito, arremata em resposta a Edson, com se estivéssemos assistindo uma dupla de repentista, duelando com as palavras. Lindo!