noticias Seja bem vindo ao nosso site Jornal Folha Sertaneja Online!

HISTÓRIA & MEMÓRIA

História e Memória, que valor têm?

Publicada em 25/06/25 às 16:52h - 251 visualizações

Antônio Galdino


Compartilhe
Compartilhar a noticia História e Memória, que valor têm?  Compartilhar a noticia História e Memória, que valor têm?  Compartilhar a noticia História e Memória, que valor têm?

Link da Notícia:

História e Memória, que valor têm?
 (Foto: Acervo Antônio Galdino)

História e Memória, que valor têm?

Antônio Galdino*

A historiadora, pesquisadora e professora universitária brasileira, Emília Viotti da Costa (São Paulo - 28/2/1928 – 02/11/2017) certa vez disse que “Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”.

Mesmo sem conhecer a riqueza do seu trabalho tenho me apegado a esse pensamento desde quanto, ainda no ano de 1981 produzi a primeira revista sobre a história de Paulo Afonso que tinha, na época apenas 23 anos de vida como cidade e município.

Desde então, com real grande esforço e empenho, tenho procurado levar aos gestores do município, aos vereadores de Paulo Afonso e também de Glória, a importância do resgate das memórias desses lugares e a preservação de sua riquíssima história que, a atual geração de jovens desconhece pois os seus olhos e sua mente têm dedicação exclusiva nas redes sociais, sendo esse apego tão forte que foi preciso se criar uma lei nacional proibindo o uso de celulares nas escolas para ver se melhora um pouco o nível de aprendizado dessa juventude...

Olavo Bilac, chamado de príncipe dos poetas brasileiros (Rio de Janeiro 16/12/1865 – 28/12/1918), que era também jornalista, escreveu um poema chamado A Pátria em que diz:

A PÁTRIA

Olavo Bilac 

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!

Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos...

Embora o poeta apresente a Pátria, o Brasil e sua formosura, a sua mensagem, nos dois primeiros versos cabe perfeitamente em qualquer espaço em que vivemos, a nossa rua, a nossa cidade, o nosso município.

E, amar com fé e orgulho o lugar onde nascemos ou onde fomos acolhidos é o primeiro passo para buscar conhecer intensamente cada palmo desse chão, como tudo começou, quem foram os pioneiros, que lutas precisaram ser vencidas, que mudanças aconteceram ao longo dos anos e como estamos hoje.

E cabe uma pergunta. Quanto você sabe sobre a história desse lugar? Que memórias afetivas lhe conduzem ao passado, aos primeiros tempos? E o que se poderá tirar de proveito, conhecendo-se bem os tempos idos, seus acertos, seus erros que podem ajudar a construir o presente e, mais que isso, o futuro?

Sim, porque, “conhecer o passado é fundamental para planejar bem o futuro”, asseguram os especialistas em planejamento, palavra tão comum hoje nas esferas de gestão.

Hoje, o mundo conhece Paulo Afonso pela sua capacidade de produção de energia elétrica, iniciada há exatos 70 anos quando foi inaugurada a Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, em 15 de janeiro de 1955. E todos que estudam o Nordeste, que pesquisam sobre a sua história, sabem das mudanças que essa “luz de Paulo Afonso” promoveram em toda a região.

Também nestas terras sertanejas – quase um deserto na época – todos sentiram as mudanças trazidas pela presença da Chesf e a energia das águas do Rio São Francisco.

Mas, quem promoveu todas essas mudanças? Que pessoas e acontecimentos foram tão marcantes a ponto de se mudar a história desse lugar e, será que não é oportuno que se destaque o valor das intervenções de homens e mulheres para que as mudanças implementadas há tantos anos atrás nos trouxessem os benefícios que temos hoje?

Quem foram esses Personagens da Nossa História que contribuíram para que se viva hoje numa cidade, em um município que é referência no Estado da Bahia, polo de desenvolvimento regional onde cerca de 120 mil pessoas vivem e que há pouco mais de 70 anos, era quase um deserto catingueiro...

Foi a dedicação desses homens e mulheres pioneiros, engenheiros e operários, “cassacos” da Chesf, pequenos comerciantes da Rua da Frente (Av. Getúlio Vargas), vereadores igualmente pioneiros que atuavam sem nenhum salário e reuniam-se em duas, até mais sessões semanais para criar a estrutura inicial que o município recém nascido precisava para consolidar-se na sua fortaleza e despontar, lá adiante, vencendo as décadas e chegar ao primeiro quarto do Século XXI, neste ano de 2025, "no correr da águas do Rio São Francisco, na direção do futuro", como já afirmava a escritora/historiadora Joselice Jucá ao escrever sobre os 35 anos da Chesf...

Os que estão no poder nesses tempos modernos de 2025 precisam resgatar a memória, tornar pública a história daqueles que lhe aplainaram o caminho para que este futuro lhes sorria...

E, como é estranho ver que ruas, praças, avenidas, bairros inteiros de uma cidade que nasceu no meio da caatinga, ao invés de prestigiar esses seus heróis, cassacos, comerciantes, vereadores, prefeitos pioneiros, levam os nomes de cidades e países que os pobres sertanejos nunca conhecerão um dia.

Vê-se hoje no grande Bairro Chesf que reúne os Bairros General Dutra, Alves de Souza e Bairro Operário, criados pela gestão da Chesf e que se chamou Acampamento da Chesf e passaram à gestão da Prefeitura de Paulo Afonso no segundo mandato do prefeito Paulo de Deus, ainda hoje tenham ruas que se chamam Recife, Esplanada, Aurora e centenas de outros nomes que nada têm a ver com a história e a memória de pessoas que viveram e morreram construindo o que se tornou a maior empresa do Nordeste e, em consequência desse seu trabalho, nasceram grandes cidades nesta região, como Paulo Afonso...

Do mesmo modo que é incompreensível que outros grandes bairros sejam chamados de Caminho dos Lagos, Tancredo Neves e dentro do Bairro Abel Barbosa a suas ruas sejam nomes de países, Chile, Canadá, Paraguai e outros muitos.

Com classificar isso? Falta de imaginação? Ou um real desrespeito a tantos que se doaram para que esse lugar existisse e se tornasse um dos mais importantes municípios da Bahia, do Nordeste?

Vereadores da 1ª Legislatura da Câmara Municipal de Paulo Afonso - 1959/1963.

Morar em Paulo Afonso há mais de 70 anos, me permitiu acompanhar toda a sua história até de antes da sua emancipação. A longevidade, bênção de Deus na minha vida, me permitiu conhecer e até conviver e aprender muito com pioneiros como Diogo Andrade Brito, Manoel Pereira Neto, José Rudival de Menezes, José Freire da Silva, Lizete Alves dos Santos, estes todos vereadores da primeira legislatura – 1959/1963 – todos contribuintes da construção de alguns dos meus livros, com depoimentos importantes.

Há anos que Jaime Jackson, vencedor de festivais de música em Paulo Afonso, ex-aluno do COLEPA, jornalista e escritor, membro da Academia de Letras de Paulo Afonso,  morador em Santos há muitos anos, lamenta que o seu pai, José Freire da Silva, vereador, ex-presidente da Câmara, comerciante, empresário, empreendedor naqueles tempos difíceis de Paulo Afonso, não tenha o seu nome dado a uma rua, um beco, uma pracinha...

Há poucos dias atrás, o ex-vereador Diogo Andrade Brito, o primeiro secretário da Câmara Municipal de Paulo Afonso, se vivo estivesse, completaria 100 anos. Pessoas que o conheceram bem se movimentaram, buscaram o apoio de um vereador para que se desse o seu nome a uma rua do Bairro Chesf onde ele morou todo o tempo em que esteve na Chesf. Os moradores da rua, mais de 30, assinaram um documento apoiando essa ideia e foi preciso que se enfrentasse a burocracia do Poder Legislativo para que o processo ali caminhasse... enquanto em outros momentos projetos de títulos de Cidadão de Paulo Afonso, para homenagear autoridades, são rapidamente aprovados “dispersadas as formalidades”...

Nunca esqueço que, quando entrevistei pioneiros chesfianos para o documentário Chá da Memória que produzi, pela Galvídeo, para a Chesf, em 2006 ou 2007, quando me deparei com homens maduros, com mais de 70 anos, como Euclides Ribeiro, Dr. Hugo Quadros, José Freire (do COPA), Campelo, Lalau (músico), muitos chorando, lembrando dos seus tempos na hidrelétrica e entre eles o Sr. José Vitorino Diniz, pai do radialista Antônio Diniz, que me falava, os olhos cheios de lágrimas, do seu orgulho de ter sido o primeiro coringueiro (motorista, operador de Koerings, grande basculante da época) a colocar a primeira carrada de pedras na estrutura criada para ajudar no fechamento do rio São Francisco e ser possível a construção da Barragem Delmiro Gouveia. Que orgulho! Foi assim com dezenas desses pioneiros... Quantos foram homenageados pela cidade que ajudaram a construir?

Médicos e dentistas do Hospital Nair Alves de Souza - Chesf

É preciso que se dê mais valor à nossa história e à memória de pessoas pioneiras, os verdadeiros construtores da realidade que se vive nos dias atuais.

Assim como é necessário que a gestão municipal – da prefeitura e da Câmara por serem poderes institucionais estabelecidos – despertem para o valor que se precisa dar ao resgate da história e da memória desse lugar sob pena de nos enquadrarmos no pensamento da historiadora Emília Viotti, seguida por todos os historiadores e nos tornarmos “um povo sem memória e, portanto, um povo sem história.”

E isso passa pelo apoio da gestão municipal, através de sua Secretaria de Cultura, aos escritores pauloafonsinos, com a destinação de recursos para suas publicações, certamente em valor ínfimo se comparadas com as promoções de festas populares como os festejos juninos e a Copa Vela. Mas, esse é o tema de outro artigo.

Em breve voltaremos com histórias e memórias de pioneiros...

Inté!

Antônio Galdino da Silva*

Membro fundador da ALPA – Cadeira 14

Paulo Afonso-BA




ATENÇÃO:Os comentários postados abaixo representam a opinião do leitor e não necessariamente do nosso site. Toda responsabilidade das mensagens é do autor da postagem.

4 comentários


Vera ex-aluna

26/06/2025 - 22:35:31

Teacher,you are the best!


Flávio Motta

26/06/2025 - 16:47:04

História e Memória - avante, estaremos a lembrar sempre, esses homens e mulheres que fizeram Paulo Afonso, e nós que os conhecemos em boa parte, e demos continuidade ao seu pioneirismo, registremos em fatos e fotos em todos os momentos vividos!


Evaristo Cavalcanti

25/06/2025 - 22:08:21

PARABÉNS, Prof. Galdino, pelo esforço e obstinação de sempre lembrar e cobrar do Poder Público a importante e nobre função de homenagear meritoriamente os homens e mulheres que se destacaram na formação, crescimento, engrandecimento e consolidação do município de Paulo Afonso.


Paula Rubens

25/06/2025 - 20:05:51

Professor Galdino, a falta de memória e reconhecimento é comum no Brasil.Por isso, admiro o Recife e seus nomes de ruas que contam a história da cidade. Lá, adotaram a prática exemplar de incluir nas placas uma breve biografia da pessoa homenageada. Uma verdadeira aula de história ao ar livre — como deve ser.


Deixe seu comentário!

Nome
Email
Comentário
0 / 500 caracteres


Insira os caracteres no campo abaixo:








Nosso Whatsapp

 (75)99234-1740

Copyright (c) 2025 - Jornal Folha Sertaneja Online - Até aqui nos ajudou o Senhor. 1 Samuel 7:12
Converse conosco pelo Whatsapp!