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LUCIANO JÚNIOR

Quando Jorge Amado Chegou na Reunião do CMMA numa tarde fria na Bahia

Publicada em 02/07/25 às 16:08h - 155 visualizações

Luciano Júnior


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Quando Jorge Amado Chegou na Reunião do CMMA numa tarde fria na Bahia
 (Foto: imagem ilustrativa da net)

Quando Jorge Amado Chegou na Reunião do CMMA numa tarde fria na Bahia

Luciano Júnior

Era uma tarde chuvosa na Bahia, dessas raras de inverno em que o vento se atreve a ser frio e a gente se aquece com um café improvisado, estranhando o arrepio que não vem do calor, mas de um vento miúdo, quase maroto, que brinca com as folhas das mangueiras.

Eu, ainda na Bahia e iniciando o retorno à ativa depois de semanas doente, esperava a reunião do Conselho de Meio Ambiente, alinhando mentalmente as informações da pauta da reunião, esperando o início. Foi quando Lalau do Esporte, hoje convertido em guardião do meio ambiente e embaixador da ARPA, entrou no auditório trazendo nos braços enorme caixa de papelão amadeirado que exalava o cheiro de papel antigo misturado ao cheiro bom de quem vem da rua molhada, com uma bela surpresa. 

“Trouxe pra você”, disse ele, e ali, naquela tarde quase europeia na Bahia, Jorge Amado chegou, encadernado em capa dura, em letras douradas e folhas amareladas, mais vivo do que nunca. Um presente de amigo, que é a forma mais bonita de Jorge chegar.

De repente, a Bahia cinza do dia se pintou das cores de Gabriela, Cravo e Canela, que me fez lembrar que mesmo quando chove, há sempre alguém dançando descalça no barro, com um riso de quem sabe que o sol volta. A chuva batia mansa, como se fosse a música de fundo de Capitães da Areia, e eu pude quase ouvir Pedro Bala conspirando liberdade entre os becos encharcados.

Enquanto Lalau se sentava, após meus agradecimentos, pensei em Tieta, que também voltou em um dia de chuva, desafiando o moralismo de Santana do Agreste. Pensei que aquela tarde era dela, porque a água que caía dos céus lembrava que a terra precisa de banho, que a gente precisa de pausa, que a Bahia também merece frio de vez em quando.

E foi ali, antes do Conselho começar, que me imaginei folheando as páginas de “Mar Morto”, sentindo o vento frio me tocar a nuca enquanto eu lia as histórias dos saveiristas, e percebi que Jorge Amado entendia de mar e de gente como ninguém. As histórias pulavam das páginas, como se as velas dos saveiros se abrissem no corredor da sala, e eu sorri, porque lembrei que mesmo os personagens de Jorge, quando estavam perdidos, achavam abrigo uns nos outros.

Frio na Bahia é quase tão raro quanto achar uma edição inteira de Jorge Amado em capa dura num presente de terça-feira. E, naquela hora, entendi que aquele frio era convite para café coado na hora, para conversa comprida, para abrir Jorge Amado e esquecer um pouco das planilhas da vida.

Quando a reunião começou, as nuvens ainda estavam pesadas, mas eu estava leve. Porque Jorge Amado tinha me lembrado, ali entre uma pauta e outra, que lutar pelo meio ambiente também é lutar pelo Brasil que ele escreveu. É proteger a terra que os personagens dele amaram sem discurso, porque sabiam que era dela que vinha o sustento, a poesia e o axé.

Naquela tarde fria, chuvosa, de inverno na Bahia, Jorge Amado chegou para lembrar que somos feitos de histórias, de chão molhado, de gente que se ajuda, e de sonhos que resistem ao tempo. E que, às vezes, o melhor jeito de preparar uma reunião é abrir um livro, respirar fundo e deixar que a Bahia, mesmo molhada, nos ensine a ser melhores.

E eu segui na reunião, com Jorge Amado na cabeça e a certeza de que, mesmo quando a Bahia faz frio, o calor de quem ama esta terra nunca se apaga.




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2 comentários


Gleisson

02/07/2025 - 23:49:28

Luciano, no 2 de julho dia da independência da Bahia, sua crônica capta com maestria a essência do nosso estado e também a magia das obras de Jorge Amado. Na verdade é um texto que carrega consigo esse legado de luta e cultura que molda nossa identidade , além de celebrar a força das histórias e da identidade baiana com sensibilidade e elegância. Parabéns pelo texto!


Professor Galdino

02/07/2025 - 16:14:54

Nada como o 2 de julho, data magna da independência da Bahia, tão celebrada, para aceitar a sugestão de leitura da obra de Jorge Amado, que já inspirou tantas novelas e minisséries da televisão brasileira. Faz pouco, reli Tieta e Gabriela, duas das muitas obras de Jorge Amado. Leiam também outros autores, conheçam os escritores de Paulo Afonso, também. Ler, em qualquer data e idade, faz muito bem. Parabéns Luciano pelos teus textos, sempre bem vindos por aqui. Abraço fraterno. Prof. Galdino


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