Antes que o concreto subisse, antes que a Chesf iluminasse o Brasil e antes que as placas de metal anunciassem os novos nomes das ruas, havia um chão de barro, fé e coragem chamado Tapera de Paulo Affonso.

Não a tapera do abandono, mas a viva — feita de mãos calejadas, de orações nas madrugadas e de horizontes que não cabiam em mapas.

Foi em 3 de outubro de 1725, há exatos 300 anos, que um vaqueiro chamado Paulo de Viveiros Affonso, ligado à lendária Casa da Torre de Garcia d’Ávila, fincou suas estacas às margens da cachoeira que o tempo consagraria com o seu nome. Ali começou tudo.

O Alvará Real de 3 de outubro de 1725 reconheceu aquele pequeno núcleo sertanejo — um pouso de boiadas, uma parada de tropeiros, um abrigo de fé — como o marco fundador da história que hoje chamamos Paulo Afonso.

A Tapera foi o primeiro capítulo de uma epopeia nordestina.

Entre rezas, aboios e o ranger dos carros de boi, ergueu-se uma comunidade onde o tempo andava devagar, mas deixava marcas fundas.

Dali partiram trilhas de gado rumo ao litoral, seguindo o traçado da antiga Estrada Real das Boiadas, rota que ligava o Piauí e o Ceará até a Bahia, e que fazia da Tapera pouso e testemunha da história do sertão.

Depois, veio a Chesf, trazendo progresso, energia e uma nova paisagem.

O roçado virou avenida, as casas ganharam muros, e o nome mudou — Tapera virou Bairro Centenário. Mas, como toda alma antiga, ela guardou no sotaque da terra o som das origens.

Ainda hoje, quem passa por ali sente — sob o cimento, sob o asfalto — o murmúrio de um passado que não se apaga. E é por isso que Paulo Afonso para esta semana.

Neste domingo, 5 de outubro, o Beco da Cultura  Tapera abre suas portas e memórias para celebrar esta data sagrada com festa e reverência.

Das 16h às 21h, o Bairro Centenário se transforma em um corredor de lembranças e arte viva: tem feira de artesanato e gastronomia, discotecagem popular, recreação do SESC, a Mostra Fotográfica “300 Anos da Tapera” mediada por Osmar Borges, o Cinesesc infantil, a apresentação “Cangaceiros e Volantes” do PNAB, a música do Pífano Velho Chico, e os pocket shows de Ruth Sampaio e Carine Nóbrega — tudo isso costurado pelo mesmo fio da história que nos une há três séculos.

É o povo da Tapera reencontrando o próprio tempo.

É a cultura sertaneja se reinventando no mesmo chão que outrora abrigou vaqueiros e lavradores. É a memória virando festa, e a saudade se vestindo de futuro.

E, para coroar esse ciclo, no dia 8 de outubro de 2025, às 18h30, a Câmara Municipal de Paulo Afonso realiza uma Sessão Especial em homenagem aos 300 anos da Tapera — marco oficial de reconhecimento da cidade ao seu berço histórico.

Nessa noite solene, serão apresentados os resultados das pesquisas, o prelúdio do livro e do documentário Tapera 300 Anos, e também a proposta de criação do Concurso para o Marco Comemorativo, que será erguido no local original da antiga fazenda em 2026, como um símbolo de nossa origem.

A homenagem é fruto do trabalho coletivo de um grupo de voluntários, pesquisadores e escritores — verdadeiros guardiões da memória:

Antônio Bartolomeu Silva, Cleonice Vergne, João de Sousa Lima, José Luciano dos Santos Júnior, Jovelina Ramalho, Lúcia Teixeira, Luiz Guerra, Magda Moreira, Marcus Vinícius Ribeiro de Moraes, Marcos Vinícius Moreira Gomes, Marcos Aurélio Pereira Torres, Osmar Borges, Padre Luiz Tibúrcio, Roberto Ricardo do Amaral Reis e Tiago Almeida, além do saudoso Antônio Galdino (um dos idealizadores do trabalho), cuja dedicação à história de Paulo Afonso permanece viva nas páginas e nos corações e será homenageado na referida sessão.

Com apoio do Instituto VIS, do Instituto Histórico e Geográfico de Paulo Afonso (IGH), da Academia Pauloafonsina de Letras (ALPA), do ICMBio e de tantas mãos amigas, esse resgate torna-se uma verdadeira ponte entre passado e futuro.

Celebrar os 300 anos da Tapera é muito mais que contar uma história antiga.

É reconhecer o berço, agradecer aos que vieram antes, e reafirmar que o futuro de Paulo Afonso não se ergue apenas sobre energia e concreto — mas sobre raízes, nomes e chão.

 Porque a Tapera não é ruína.

É raiz.

E sem raiz, nem o vento nos reconhece.

PROGRAMAÇÃO: 

- DIA 05/OUT/2025 (Domingo)

"BECO DA CULTURA ESPECIAL - TAPERA 300 ANOS"

A Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, por meio da Secretaria de Cultura e Esporte (SECULTE), promoverá a 9ª edição do Beco da Cultura uma edição especial em comemoração aos 300 anos da Tapera.

Data: Domingo, 5 de outubro

Horário: A partir das 16h

Local: Praça Pedro Gomes no Bairro Centenário

(Fonte: Prefeitura de Paulo Afonso/BA)

- DIA 08/OUT/2025 (Quarta-Feira)

"SESSÃO ESPECIAL DA CÂMARA DE VEREADORES EM ALUSÃO AOS 300 ANOS TAPERA"

- Palestras

- Literatura de Cordel

- Apresentação da Equipe de Trabalho

- Homenagem ao Professor Galdino, um dos criadores do grupo.

Na ocasião serão apresentados os ideais da equipe:

Em 1 ano, nos 301 anos da Tapera de Paulo Affonso lançar:

1. Livro e revistas em quadrinhos sobre a história

2. Um documentário em vídeo

3. O Marco dá Tapera de Paulo Affonso

Data: Quarta-feira, 8 de outubro

Horário: A partir das 18h30

Local: Câmara de Vereadores de Paulo Afonso/BA.

Sessão aberta ao público.

(Fonte:  Luciano Júnior | Equipe responsável pelo projeto Tapera 300 anos)