Oxe, é o Nordeste que fala!
* Gilmar Teixeira
Saí hoje pra participar de um evento sobre História Afro-Brasileira em Salvador, e, como sempre, o que começa com saberes termina numa celebração de sotaques. O evento reunia gente de todo canto do Brasil: gaúchos de fala arrastada, paulistas apressados nas palavras, cariocas cheios de gíria e malemolência. Mas bastou um nordestino abrir a boca pra sala virar sala de aula — e nós, os professores de “nordestinês”.
Nos intervalos, a conversa rolava solta, ou melhor, tentava rolar. Porque quando um de nós soltava um “oxe, visse?”, os olhares curiosos vinham como quem viu um OVNI linguístico. Aí lá ia a gente: explicar que “mainha” é mais que mãe, é afeto. Que “danô-se” não é xingamento, é exclamação. E que “eita mulesta” pode ser surpresa, susto ou até uma saudação, dependendo da entonação.
Eles riam, se espantavam, anotavam. E a gente ria mais ainda. Porque nordestino é assim: se diverte explicando até a “cagada e cuspida” que é um filho parecido com o pai. Tem gente que acha que falamos outra língua, e talvez até falemos. Uma mistura linda de português antigo, influência indígena, africanidade enraizada e um bocado de criatividade sertaneja.
Quando alguém pergunta o que é “maluvido”, a gente diz que é aquele menino tinhoso, sem juízo, mas que a gente ama. Quando querem saber o que é “pegue o beco”, explicamos que é o mesmo que “vá embora, suma daqui”, mas com poesia. E se o papo vai até um “tá com a mulesta?”, aí já é intimidade demais — sinal de que fomos aceitos, ou que o café já esquentou e virou prosa.
No meio de tudo isso, percebi: meu sotaque é minha identidade. Ele me denuncia onde quer que eu vá. Basta um “marrapaz!” e pronto, sou do sertão. E eu não quero esconder. Pelo contrário: eu celebro. Porque não existe língua mais rica do que a do povo que transforma a dor em riso, a seca em festa e a saudade em música.
Ser nordestino é carregar no peito um dicionário de afetos. É dizer “valei-me” quando algo dá errado, e “deixe de aperreio” quando o coração aperta. É chamar de “caba da peste” quem a gente estima. É saber que “num fresque não” pode salvar uma amizade e que “lá em riba” mora sempre alguém que a gente respeita.
Hoje, no fim do evento, uma moça do Sul me disse: “Queria tanto falar assim que nem vocês...” Sorri e respondi: “Oxente, mulher, se avexe não... é só botar o coração na língua.” Porque o nosso falar é isso: alma que vaza pela boca.
Feliz dia a nós, donos das melhores gírias, das expressões mais criativas, da fala que dança com o vento do agreste e canta com o mar do litoral. Feliz. dia ao povo mais arretado desse Brasil.
Nordeste: onde o idioma é emoção, e cada palavra é um pedaço de vida.
Lá ele, mas é com orgulho!
* Gilmar Teixeira
Membro fundador da ALPA – Cadeira Nº 8
Paulo Afonso-BA
Marrr minino e existe nesse mundão quem fale mais bunito do que nós?
esse nosso vício de linguagem,nos faz ser entendido no Brasil e no mundo.no mundo inteiro existe um brasileiro ,nordestino.cabra da pext.o nordestino tem vicio de linguagem,mas nao fala errado......kkkkkkkkkkkkkkkkk
O nosso nordestinês é arretado.