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Gilmar Teixeira - Proseando

“O Caminho de Volta, de Volta ao São João”

Publicada em 20/06/25 às 11:51h - 240 visualizações

Gilmar Teixeira


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“O Caminho de Volta, de Volta ao São João”
 (Foto: Divulgação Gilmar Teixeira )

“O Caminho de Volta, de Volta ao São João”

* Gilmar Teixeira

 

Essa semana, fechei as cortinas do Teatro Amélio Amorim, em Feira de Santana, desliguei as luzes do palco, guardei o figurino da rotina e me preparei para vestir a roupa mais bonita da minha alma: a roupa da saudade, do reencontro e da tradição. Peguei a estrada rumo a Paulo Afonso, a cidade que um dia abriu seus braços para receber a mim e minha família, quando deixamos o nosso pedaço de sertão, lá no Olhos d’Água de Souza, em Glória.

E se alguém me perguntasse pra onde vou, eu responderia sem pestanejar: “Vou buscar a mim mesmo.” Porque é ali, entre o cheiro de milho assado, o sabor do amendoim cozido e o som do triângulo, da zabumba e da sanfona, que mora quem eu sou de verdade.

É tempo de São João. Tempo de abraçar minha mãe, rever meus irmãos, apertar as mãos calejadas dos amigos de infância, rir das histórias que se repetem, mas nunca perdem a graça, e dançar... Ah, dançar... Mas dançar o quê, se hoje o que se vê nos palcos juninos nem sempre tem o compasso do nosso velho forró pé de serra?

Fico aqui pensando na origem disso tudo. E volto no tempo, bem lá atrás, antes mesmo da primeira sanfona soar no sertão. Porque a dança é tão antiga quanto o próprio homem. Foi com os pés batendo no chão e as mãos marcando o ritmo que a humanidade aprendeu a falar sem palavras.

Os hebreus dançaram diante da arca. Salomé rodopiou diante de Herodes. Egípcios, gregos, romanos... todos, de algum jeito, encontraram na dança um jeito de falar com os deuses, de celebrar a vida, de chorar suas dores ou exaltar suas vitórias.

Quando os ventos da história sopraram pela Europa, nasceram danças com nomes elegantes: sarabanda, pavana, bourrée... Daí, atravessaram oceanos, ganharam novos sotaques e, aqui no Brasil, se misturaram com o batuque dos africanos, com o canto dos indígenas e com o compasso dos colonizadores. E desse caldeirão cultural nasceu o que hoje chamamos de cultura popular brasileira.

No Nordeste, essa mistura virou festa. E no mês de junho, o chão vira salão, a praça vira palco, e o povo vira artista. A quadrilha, que lá na Europa tinha nome francês e pose aristocrática, aqui ganhou vestido de chita, chapéu de palha e um mestre de cerimônia que grita com gosto:

- “Anarriê!

- Alavantú!

- Balancê!”

Mas hoje, confesso, me aperta um nó na garganta ver que as danças tradicionais andam meio esquecidas. A sanfona disputa espaço com caixas de som, e a quadrilha muitas vezes dá lugar a outros ritmos que, embora legítimos para o seu tempo, não carregam o cheiro da nossa memória.

E é por isso que volto. Volto pra garantir que, pelo menos na festa da nossa família, a tradição não morre. Lá vai ter sim forró do bom, aquele que faz o pé bater no chão até criar calo de alegria. Vai ter milho, pamonha, canjica, bolo de milho, licor, fogueira e muito mais. E quando a quadrilha começar, ninguém vai ficar parado.

- “Anarriê! Alavantú!

- Olha a cobra!...

- É mentira!

- Olha a chuva!...

- Já passou!”

E assim, rodando na ciranda do tempo, dançando na contramão do esquecimento, a gente segue. Porque tradição, meu amigo, não é passado. Tradição é raiz. E quem tem raiz, nunca se perde da própria história.

Que venha o São João. Que venha o São Pedro. E que nunca falte música, dança e amor no terreiro da vida.

* Gilmar Teixeira

Membro fundador da Academia de Letras

de Paulo Afonso. Cadeira Nº 8




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