“Como falar sobre ADOM?

É o que me pede o amigo Ivus Leal, dos tempos do COLEPA, quando éramos professores, eu de Português, ele de História, nas três últimas décadas do século passado, ambos aposentados há muitos anos, dedicados à escrita de livros, poesias, causos...

Pois, na sua inquietude de escrever mais e mais, o sempre professor Ivus Leal, já com 85 anos (Julho/2025), me traz esse livro com o pedido de prefaciar e cujo tema, naturalmente, chamou a atenção assim que o vi: ADOM – Almas do outro mundo.

Como se já não nos bastasse a convivência com as muitas almas desse mundo maluco em que vivemos e temos que aguentar todo santo dia, Ivus, tratou de acordar estas que já descansam, há muito tempo, em outros planos...

E para isso, traz o autor a tiracolo, o Rogaciano, cujo início do nome já está associado a uma prece, para falar desses personagens – ADOM – no cenário imenso do Raso da Catarina que invade quase uma dezena de municípios nesses sertões da Bahia e Sergipe.

Faz sentido o cenário porque, além de viverem por ali há séculos os indígenas da tribo dos Pankararés, em terras de Paulo Afonso e do município de Glória, de quem Paulo Afonso se originou, por ali, o cangaceiro Lampião e seu bando, andaram se escondendo da polícia por uns dez anos, segundo narram os escritores que falam sobre o cangaço, como João de Souza Lima e outros.

E, nesse tempo de vida por essas enigmáticas terras do Raso da Catarina, Lampião teria feito um monte de gente também almas do outro mundo.

Morando nestas terras, o povo indígena nutre profundo respeito aos que morreram, “os encantados”, que como espíritos, acreditam os indígenas, podem ter uma presença e influência na vida dos vivos. Por isso que os indígenas procuram honrá-los, com frequência,

em rituais, festas e práticas religiosas, na cultura indígena, bem presente no Raso da Catarina.

Esta produção literária de Ivus Leal nos leva ainda para os tempos dos nossos avós de quem ouvíamos as “assustadoras” histórias de trancoso, da aparição de almas do outro mundo, tanto com a ternura para os que sofriam com suas ausências como para assustar gente ruim que queria fazer o mal a outra pessoa...

Bom lembrar que o nome trancoso, vem do escritor português, Gonçalo Fernandes Trancoso que, no século XVI, em Portugal, escreveu seus “Contos e Histórias de Proveito & Exemplo” com intenção pedagógico-moralizante”. No Brasil, o nome ficou associado a histórias fantásticas.

O imaginário popular é riquíssimo na descoberta de muitos desses personagens, presentes nas novelas da televisão, nos livros infantis e na extensa literatura mundial.

E o pesquisador Ivus Leal, que é também poeta de mão cheia e contador de causos como ninguém, nos presenteia nessa obra com alguns causos pitorescos e, ainda achando pouco, valeu-se das conversas que teve com Luciano Jr. e do que estudou sobre Inteligência Artificial, tão em moda nesses dias modernos, para nos mostrar o que nos reserva o Século 21...

E, pela IA, ele nos mostra que, o que para os antigos, eram “histórias de trancoso”, contos fantásticos, hoje podem ser mostrados pela moderna tecnologia como “arrepiantes” narrativas em que os mortos há séculos, reaparecem, “vivinhos da silva” em vídeos e sinais da internet que, no seu tempo de vida, estavam a séculos para existirem e que, agora, por essa tecnologia do Século 21, chega até nós, com uma perfeição de deixar os cabelos em pé...

Quem sabe, nesses tempos de ciência avançada, o leitor, numa hora dessas, não estará fazendo uso do seu Código Mental de Desenvolvimento (CMD) para sair de uma situação perigosa ou para descobrir alguma coisa?

Ah! O que é CMD?

Lendo ADOM, você vai ouvir falar de CMD, de IA, de avatar, de Matrix.

É a Ciência e a tecnologia avançadas de hoje querendo explicar o passado, o presente e prever o futuro?

É preciso conhecer ADOM, é preciso ouvir Rogaciano, Luciano Jr., ver o susto de alguns personagens como “Mão Leve e Romba”, que ainda hoje estão correndo, pois todos estão juntos nessa narrativa envolvente para entender. Ou não! Como diria Caetano Veloso...”

Prefácio: Antônio Galdino da Silva 

* Antônio Galdino e Ivus Leal -  Foto acervo Professor Galdino (editada). 

* Capa Livro "Adom"

SOBRE O LANÇAMENTO DO LIVRO

O Escritor João de Sousa Lima escreveu:

“Dia 10 de outubro o escritor e membro da Academia de Letras Ivus Leal lançou em sua residência na Rua das Acácias, o seu mais recente livro “Adom”.

O lançamento se transformou em uma roda de conversas onde os participantes contaram causos e fatos vividos, relembraram histórias dos antepassados, incursões  nas memórias, aventuras acontecidas nas estradas do Raso da Catarina, mal-assombradas vivências com as almas penadas, rezas de invultamentos….  Tudo em detrimento das páginas do novo livro e fatos relatados por quem já tinha iniciado a leitura da citada obra e pra quem não tinha acessado ainda as páginas falou um pouco sobre o próprio autor, figura distinta, grande mestre na arte de lecionar história, amigo leal e verdadeiro, homem bom pra vida, amante dos acampamentos e o contato com a natureza.

No momento a academia de Letras se fez presente com os membros Isac de Oliveira, João de Sousa Lima, Gorete Moreira, Rubervânio Lima e Sebastião.

Nesse dia a Rua das Acácias amarelas viveu sua mais efervescente noite cultural e tive a honra de partilhar mais uma vez de um grande momento ao lado do mestre-escritor-amigo Ivus Leal.”

* João de Sousa Lima, Professor Ivus e Luciano Júnior

Luciano Júnior complementou:

“Os membros da Academia de Letras estavam presentes, além de alguns dos membros da equipe Tapera 300 Anos e do simpático casal João Abílio e esposa, cada um com seu jeito de rir, comentar e recordar. E no meio da prosa, a figura do historiador Antônio Galdino apareceu — não em corpo, mas em lembrança.

Seu nome brotava entre as frases com o mesmo carinho com que se fala de um parente querido.

- “Foi Galdino quem registrou isso primeiro…”, alguém dizia.

- “Ah, se Galdino estivesse aqui, ia contar melhor ainda!”, completava outro.

E todos sorriam, porque era como se, de algum modo, ele realmente estivesse ali  presente no ar, nos relatos, na saudade que aquecia o coração dos que o conheceram.

O ambiente tinha algo de mágico: a água da piscina refletia as luzes amareladas da varanda, as acácias pareciam ouvir em silêncio e o livro Adom circulava de mão em mão, já todo marcado de curiosidade e afeto.

O professor Ivus, com sua serenidade de mestre e alma de contador de histórias, observava tudo com um sorriso discreto, aquele tipo de sorriso de quem sabe que a literatura, quando nasce do coração, não precisa de palco, basta um círculo de amigos.

E assim, entre lembranças e gargalhadas, a noite foi passando devagarinho.

As palavras, livres, nadavam sobre o espelho da piscina; as memórias, doces, repousavam sob as copas das acácias.

Quando o último convidado se levantou, o vento soprou leve como se levasse embora o excesso e deixasse só o essencial: o valor da amizade, a beleza da memória e a certeza de que há noites que não terminam, apenas se transformam em boas histórias para serem contadas de novo.

E o professor Ivus já concluiu o quinto capítulo de seu novo livro, um romance. Mas aí será história pra ser contada depois.”

O evento reuniu amigos do Professor Ivus e como filha do Professor Galdino, atrevo-me a dizer que meu pai de certa forma também estava presente pois ele sempre se alegrou e se emocionou com as conquistas dos seus amigos.  E, com toda certeza ele também animaria a noite contando seus causos. 

Parabéns, Professor Ivus. Que “Adom” seja um sucesso!

Fabiana Galdino

* O Livro Adom de autoria de Ivus Leal  teve seu lançamento em 10 de Outubro de 2025 às 19h00 na rua das Acácias, 215. O prefácio foi escrito pelo escritor e seu amigo pessoal, Antônio Galdino da Silva.

*Fotos cedidas por Luciano Júnior e João de Sousa Lima. 

----

Jornal Folha Sertaneja

Site: www.folhasertaneja.com.br

Instagram: @jornalfolhasertaneja.oficial