Desafiando o perigo
Acareação Mauro Cid/Braga Neto
Francisco Nery Júnior*
A referência é à acareação – cara a cara – entre o general de quatro estrelas Braga Neto, ex-candidato à vice-presidência da República e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. A acareação vai no rol das investigações de uma suposta tentativa de golpe militar para impedir a posse do presidente Lula no início de 2023.
Os envolvidos citados detêm as mais altas patentes do Exército Brasileiro orgulhoso de ter produzido generais da mais alta qualificação e conceito tais como Eurico Dutra, Góes Monteiro, Mascarenhas de Morais, Castelo Branco, Golbery do Couto e Silva, Justino Alves Bastos, Amaury Kruel, dentre outros, para não citarmos os marechais do início da República.
A acareação, realizada em 24 de junho de 2025, tida como normal e necessária, poderia ter sido realizada a portas fechadas para evitar constrangimentos desnecessários se considerarmos que a fase é de investigação. Ademais, pelo que se sabe até agora, pode ter havido conversas, sugestões, mesmo sondagens ou especulações que não partiram para uma tentativa de impedimento da posse do novo presidente pela força.
O Congresso Nacional está sob pressão para votar uma anistia ampla preventiva aos acusados da assim denominada tentativa de golpe. O que poderia acontecer na hipótese de outro poder da República não reconhecer ou acatar a decisão do Poder Legislativo em favor da anistia? Como não temos um Poder Moderador no Brasil, não há como ser feita uma previsão para o desenrolar dos fatos. Em outras palavras, o vazio poderá ser preenchido por algum grupo ou instituição não legítima. Não carece, no nosso entender, ferir susceptibilidades. Em termos coloquiais, futucar o cão com vara curta.
Anistia não é novidade no Brasil. Ela tem acontecido desde a Coluna Prestes passando pelo Governo Vargas, pelo Governo de Juscelino e no final do Regime Militar. No caso recente, não houve consumação de um fato ou um delito. Se alguém pensa em matar outra pessoa e não comete o crime, não é passível de pena. O Brasil a ponto de quebrar em um mundo cada vez mais desestabilizado por guerras pontuais, o melhor, a nosso ver, seria a pacificação.
Para encerrar, dentre outros o exemplo de Nelson Mandela que, embora condenado e preso injustamente por vinte e oito anos por um regime de discriminação da África do Sul, teve a grandeza de, como presidente, decretar uma anistia que evitou um banho de sangue na África do Sul.
Nelson Mandela escreveu com grandeza o seu nome na História daquele país e é respeitado e reverenciado em todo o mundo.
Fica a reflexão na esperança que o amor, tão citado nestes últimos anos, prevaleça para o bem e o desenvolvimento do Brasil.
*Francisco Nery Júnior
Membro efetivo da ALPA – Cadeira 18
Paulo Afonso-BA