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Professor Nery

A paixão que o Zé Miranda não pode ter

Ou o medo de ser feliz

Publicada em 04/05/20 às 18:43h - 1423 visualizações

Uma crônica de Francisco Nery Júnior


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A paixão que o Zé Miranda não pode ter
 (Foto: Imagem ilustrativa)


Esta não é a hora adequada para falar de paixão. Com quase quinhentas pessoas morrendo por dia no Brasil, por efeito da Covid-19, decididamente não é. Também, em poucas palavras, não é aconselhável. Os filósofos, nas suas divagações, esgotam as palavras. Escolhem os termos. Convidam o discípulo a pensar para, em pensando, tirar as suas próprias conclusões. Não é necessário concordar, embora para isso engrenem todo o esforço. Pensar, parafusando os conceitos na mente, comparar, amadurecer – importante -  e concluir. Mas vamos arriscar.

A paixão a que nos referimos no título é sinônimo de entrega total. Não a entrega do óleo à água. Muito menos a mornidão que leva ao vômito. Tratamos da entrega uns aos outros; tratamos de fusão, dos aromas que compõem o perfume na sua mais sublime essência. Esta é a nossa paixão.

“Mas paixão nunca foi sinônimo de amor”, diria o leitor. Sim, concordamos. “O apaixonado está fora de si”, continuaria. Sim, claro, reconhecemos. “O apaixonado faz bobagens”. Evidente que faz. Quem está fora de si só pode fazer bobagens. Converse o leitor com um sobrevivente da crise de paixão, se não do sonho ou mesmo pesadelo, e ele inexoravelmente abonará a nossa linha de raciocínio. Vamos andando na corda, leitor apaixonado, torcendo para não cair no meio do fosso. Seria a nossa derrota literária. Mas vamos.

Quando afirmei categoricamente, lá no título, que o meu amigo não pode se dar ao luxo de se apaixonar, quis dizer que ele muito bem sabe que as pessoas adoram inverter a ordem do “Dai e dar-se-vos-á”. “Dar-se-vos-á e dai”, preferem pensar. Esquecem-se que em toda relação duradoura, cada um dos dois, no caso de dois, está disposto a dar 90% e receber apenas 10%. E toda a estrutura da construção social muito bem projetada desaba por terra. Espatifa-se de dar gosto, muito mais pela perversa inversão citada do que pelo pecado de Eva. Êpa, de Adão também. Pode haver – certamente há – umas ou duas exceções. Mas, para o Zé Miranda, seria caso de loteria.

O que, afinal de contas, teria levado o nosso personagem a desistir da busca da paixão quando ele bem sabe que, sem ela, a vida acaba? Agora acabamos de ampliar o nosso conceito de paixão para além da relação a dois. Que a vida acaba quando acabam os sonhos, sabemos. Vamos conjecturar:

. Miró pode simplesmente ter medo do ridículo. Significamos parecer ridículo. A percepção de um apaixonado pode ser o ridículo. Não vamos repetir, agora, ser esse o maior laço do encardido, como diria o padre Léo;

. Ele pode temer a não reciprocidade. Coisa pior que ficar na mão? Que ser esnobado? Ou, ainda, dar muito e receber pouco; quase nada?

. Pode ser, por outro lado, temor da decepção. Partir de arma em punho e coração aberto, consciente da sua pureza de intenção e não conseguir o que não depende só de si;

. O Zé pode temer a saudade. A lembrança de um relacionamento rompido após inícios de felicidade – paixão – seria pior que a não existência do relacionamento;

. E o medo de ser feliz? Pode ser o caso do nosso Zé Miranda. Por incrível que pareça, algumas pessoas têm medo de ser feliz. Serem felizes as apavora. Aí estaria a explicação de tanta desgraça e incompreensão no mundo. Aí a explicação das opções mal decididas.

E jogamos um bom traçado de conversa fora.

Francisco Nery Júnior




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