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Hoje, 14 de março, seria o Dia Nacional da Poesia, em homenagem a Castro Alves. Mas...Viva Drummond de Andrade! Também...

Publicada em 14/03/24 às 18:40h - 191 visualizações

Antônio Galdino


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Hoje, 14 de março, seria o Dia Nacional da Poesia, em homenagem a Castro Alves. Mas...Viva Drummond de Andrade! Também...
 (Foto: imagem ilustrativa)

Há uns três anos publiquei o texto a seguir justamente no dia 14 de março em que, em homenagem a Castro Alves, era comemorado o Dia da Poesia, que mudaram para 31 de outubro, que já era Dia Estadual da Poesia de Minas Gerais, em homenagem a Carlos Drummond de Andrade... Veja aí...

Os interesses, comerciais em muitos casos e quase sempre dos políticos, dos governantes da vez, e o seu desejo de agradar a uns, seus mais chegados, mesmo que desagrade a outros, seus desafetos, ou por isso mesmo, permitem que se criem datas comemorativas de tudo que é coisa.

No calendário do Brasil, todo dia é de alguma coisa ou de muita coisa.

Só nessa metade que falta do mês de março são muitos para serem lembrados. No dia 14 de março é o momento de comemorar o dia do vendedor de livros, dia nacional dos animais, dia da incontinência urinária...

E nos dias seguintes deste mês não vai faltar oportunidade de mandar o seu alô, o WhatsApp, o seu abraço para muitos. Dia 15 é o dia mundial do consumidor, dia 16 e no dia 17 comemora-se o dia do agente federal, do agente penitenciário federal, dia nacional de conscientização sobre as mudanças climáticas e o dia nacional do ouvidor.

No dia 17, se desejar, mande flores para o agente funerário, que é o seu dia. O dia 18 de março é considerado o dia nacional da imigração judaica e também dia dos Demolays.

Os nordestinos, em especial, comemoram muito o dia 19 de março, considerado Dia de São José. E asseguram eles que, se chover no dia de São José, será um ano bom para a lavoura. E como a tradição diz que São José era carpinteiro, nesse dia se comemora o dia do carpinteiro, do marceneiro, do consertador e do artesão.

Ah, e pra fechar esses dias de março, no dia 20 é o dia do contador de histórias, dia internacional da felicidade, dia mundial da saúde bucal, dia mundial sem carne, dia nacional da agricultura, dia nacional do teatro para a infância e juventude...

E, não se pode esquecer que ao longo do ano tem-se o dia da sogra, do amigo, das mães, dos pais, dos irmãos, da amizade... dia do poeta e dia da poesia...

E para celebrar a poesia são muitas datas no Brasil.

O Dia Nacional da Poesia era até há pouco tempo atrás o dia 14 de março, porque nesta data nasceu o maior poeta baiano Antônio de Castro Alves.

Mas o governo federal, em 2015, achou por bem desbancar o baiano dessa homenagem e em 3 de junho de 2015, por uma proposta do senador Álvaro Dias, sancionou a Lei 13.131/2015, mudando oficialmente o Dia Nacional da Poesia para o dia 31 de Outubro, data do aniversário de nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade.

Ou seja, agora o dia nacional da poesia é em 31 de outubro, embora extra-oficialmente se tenha o “Dia Nacional da Poesia” em 20 de outubro, data da fundação do Movimento Poético Nacional...

A nível mundial a poesia é comemorada na próxima quinta-feira, dia 21 de março, data criada pela UNESCO em 1999.

E, muitos estados brasileiros decidiram também criar o seu Dia Estadual da Poesia.

E assim, temos

  • No Acre - Dia Estadual da Poesia (20 de abril, conforme Lei Nº 2.130 de 9 de julho de 2009);
  • No Pará, Dia da Poesia (25 de junho, conforme Lei Nº 6.195 de 7 de abril de 1999);
  • No Amapá, Dia Estadual da Poesia (8 de agosto, conforme Lei Nº 580 de 21 de junho de 2000);
  • Em Goiás, Dia Estadual da Poesia (20 de agosto, conforme Lei Nº 14.866 de 22 de julho de 2004, homenageando o aniversário de Cora Coralina);
  • Em Minas Gerais, Dia Estadual da Poesia (31 de outubro,  homenageando o aniversário de Drummond);
  • No Mato Grosso, Dia Estadual da Poesia (19 de dezembro, conforme Lei Nº 7.776 de 26 de novembro de 2002, homenageando o aniversário de Manoel de Barros).

Por isso, poetas, seresteiros, correi... porque, mesmo tendo sido Castro Alves desbancado por uma lei federal de interesse de alguns, não vai ser por falta de data, que vai se deixar de poetizar, encher os céus e as praças de sons e dos ecos dos poemas, porque “a praça é do povo, como o céu do condor!”, como dizia o vate baiano.

São tantas datas. Esqueçam todas e poetizem na hora e no momento que o seu sentimento for tocado por esse desejo e escrevam muito, crônicas, contos, poesias de estrofes milimetricamente corretas, de rimas ricas e perfeitas ou de versos brancos falando de tudo, exaltando o amor, o ser amado, a natureza, a vida que segue o seu curso e diga isso, com a força dos teus versos, que o mundo precisa ouvir.

14 de março, 21 de março, 21 de outubro, para se atender aos interesses de uns ou outros fixaram-se limites, datas, mas a poesia é livre e nasce e voa e se espalha pelo mundo a fora a qualquer momento.

E, em um dos dias em que se celebra a poesia, por vivermos em tempos de desencontros e desamores, de vaidades e de horrores da guerra pelo poder, e os semelhantes se mostram tão diferentes, talvez seja importante reler a história tão simples da existência da esperança que renasce no amanhecer do primeiro dia de um novo ano, como nos contou o sulista Mário Quintana e também dela nos falou, do seu jeito, o nordestino Dedé Monteiro, para nos mostrar que nem tudo está perdido...

Antes, vamos nos lembrar de Castro Alves, o homenageado de hoje, um gênio da Bahia que morreu com apenas 24 anos e nos deixou tanta poesia e continua nos ensinando...

ESPERANÇA


Lá bem do alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança

E ela pensa que quando todas as sirenas

Todas as businas

Todos os reco-recos tocarem

Atira-se

E

- ó delicioso voo

Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,

Outra vez criança...

E em torno dela indagará o povo:

- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá

(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)

Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Mário Quintana

Texto extraído do livro “Nova Antologia Poética”,

Editora Globo – São Paulo, 1998, pág. 118.

As Quatro Velas
Quatro velas ardiam sobre a mesa,
E falavam da vida e tudo o mais.
A primeira, tristonha: “Eu sou a PAZ,
Mas o mundo não quer me ver acesa…”

A segunda, em soluços desiguais:
“Sou a ! Mas é triste a minha empresa:
Nem de Deus se respeita a Realeza…
Sou supérflua, meu fogo se desfaz…”

A terceira sussurra, já sem cor:
“Estou triste também, eu sou o AMOR
Mas perdi o fulgor como vocês…”

Foi a vez da ESPERANÇA – a quarta vela:
“Não desiste ninguém! A Vida é bela!
E acendeu novamente as outras três!

DEDÉ MONTEIRO
Tabira, 12/02/2009

Viva a poesia, em todos os tempos e lugares! 




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